Polémica na votação de moções do Chega. Dezenas de propostas de delegados nem viram a luz do dia
O final do segundo dia do III Congresso do Chega concentrou alguns dos momentos de maior tensão, até ao momento, no evento político, com uma controvérsia com moções por apresentar e a amargura de quem vai deixar órgãos políticos do partido.
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Depois de um dia marcado pela apresentação das moções dos delegados, os trabalhos no congresso do Chega, que decorre, este fim de semana, em Coimbra, foram retomados à noite, cerca das 22h30, com a apresentação das listas aos órgãos políticos do partido - a serem eleitos este domingo -, as intervenções políticas dos líderes das mesmas e as aguardadas votações das moções.
Há dois órgãos para os quais concorrem listas únicas, apresentadas por André Ventura, são eles: o Conselho Nacional e a Direção Nacional, com uma composição renovada.
O Conselho de Jurisdição Nacional (responsável pelas questões de ética e pelos processos de sanções internos) é o órgão do partido com mais listas em concurso: três, no total, lideradas por Carlos Monteiro, Rodrigo Taxa e José Dias.
Já para a Mesa do Congresso, há duas listas concorrentes, uma liderada por Luís Graça e outra para Manuel Matias. Foi no momento das intervenções relativas a estas duas listas que os ânimos mais se exaltaram, com trocas de acusações entre a lista de continuidade e a lista alternativa, sustentadas no facto de largas dezenas de moções submetidas não terem tido sequer oportunidade de serem apresentadas durante o congresso (algo que, embora tenha acontecido com o aval dos delegados presentes no auditório, foi encarado como um gesto de silenciamento por parte deste órgão do partido).
A noite prosseguiu com a votação das moções que conseguiram, de facto, ser apresentadas ao longo do dia (contrariamente às tantas e tantas que ficaram para trás), mas não sem antes se alterar o sistema de aprovação das mesmas - a Mesa do Congresso propôs que as moções passassem a ser aprovadas por maioria simples, em vez de maioria por dois terços, para acelerar as votações, uma proposta que foi acolhida bem acolhida pelos presentes - e sem que membros da direção de André Ventura prestes a terminar funções aparecessem para falar das mágoas para com o partido. "A esquerda mata, mas a direita mata-se", atirou Nuno Afonso, que lembrou que André Ventura não criou o partido sozinho e que tem estado politicamente com este "há mais de 20 anos", assumindo-se "ferido, magoado e apunhalado" perante a saída.
No final, era já 1h30 quando, entre as cerca de 80 moções submetidas, a grande maioria - mais de 50 (que diziam respeito a temas como a família enquanto pilar da sociedade, o mundo rural, as migrações, a violência doméstica ou o alargamento da idade da juventude do Chega) - foram dadas como aprovadas, tendo sido rejeitadas moções que incidiam sobre temas como a clarificação ideológica do Chega, coligações pré e pós eleitorais, sindicalismo e nepotismo no partido.
O facto de a noite já ir longa não impediu que, após as votações, houvesse ainda espaço para intervenções daqueles que se inscrevessem para as fazer.
O congresso do Chega prossegue este domingo, com as eleições dos órgãos internos do partido, a intervenção de convidados internacionais, entre os quais o líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, e o discurso de encerramento de André Ventura.