O Ministro da Administração Interna foi recebido por uma manifestação de agentes de segurança, durante as cerimónia do Dia do Polícia. PSP rejeita rótulo de xenofobia e "julgamentos em praça pública".
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Várias centenas de agentes de segurança, identificados com o "Movimento Zero", participaram, esta sexta-feira, num protesto contra a tutela, durante a cerimónia militar do 152.º Aniversário da Polícia de Segurança Pública (PSP), junto ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Primeiro, estiverem de costas voltadas, envergando camisolas do "Movimento Zero", enquanto o diretor nacional da PSP, Luís Farinha, discursava. De seguida, quando o Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tomou a palavra, irromperam, ainda de costas voltadas, em assobios e ergueram as mãos para formar um "zero", para depois abandonarem o local.
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O "Movimento Zero", que junta elementos da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana, ganhou força após o acórdão que condenou oito agentes por agressões.
Milhares de agentes terão aderido ao grupo de protesto, maioritariamente através de aplicações móveis e redes sociais. O objetivo do movimento é protestar contra as políticas de segurança do Governo e as hierarquias no setor, atuando quando consideram que a segurança dos cidadãos o justifica, ignorando contraordenações.
Na intervenção que proferiu perante as centenas de agentes de costas voltadas, o diretor nacional da PSP recusou que a força policial tenha o rótulo de "xenofobia ou racismo" e criticou "julgamentos na praça pública".
"Não aceitamos julgamentos dos polícias ou da instituição policial feitos na praça pública e de forma frequentemente desconhecedora, leviana e ofensiva dos profissionais que a integram e recusamos a classificação que pretendam atribuir de caracterizações xenófobas, racista ou quaisquer outras atentatórias da dignidade da pessoa humana aos polícias ou à polícia por não corresponderem à prática da instituição policial, nem aos princípios que regem a atuação dos seus profissionais", disse Luis Farinha.
O diretor nacional da PSP referiu-se de forma crítica a decisões judiciais recentes, "que ainda que legais e legítimas, tendem a desvalorizar ações criminais praticadas por terceiros, quando os polícias são as vítimas dos crimes", considerando que "fragilizam a imagem, a autoridade da polícia e do próprio Estado", numa alusão ao acórdão sobre o caso de agressões na Cova da Moura que levou condenação de oito agentes.
Luís Farinha admite a existência de "comportamentos e atitudes contrárias à ética, deontologia e normas legais", mas garantiu que tais comportamentos serão sempre corrigidos, bem como aplicadas as sanções disciplinar e aceites as competentes decisões judiciais.
No retrato do responsável pela PSP, "o atual efetivo policial revela-se aquém das necessidades para assegurar um pleno cumprimento da missão atribuída", dada a "elevada média etária em todas as carreiras".
Na intervenção seguinte, Eduardo Cabrita vincou que "uma agressão a um polícia é uma agressão ao Estado de direito e um insulto a um polícia, é um insulto a um defensor do Estado de direito democrático" mas acrescentou que "numa polícia das liberdades, não há espaço para o racismo, nem para quem tolera a violência doméstica, nem para a xenofobia".
"Para essa policia, eu sei, que nenhum Governo, nenhuma direção nacional e sobretudo nenhum polícia voltará as costas", sublinhou o ministro da Administração Interna perante as forças da PSP, em parada, e já sem a presença das centenas de agentes à paisana.