Polícias. Plataforma diz que protesto não teve episódios que mereçam "censura", mas admite investigação
"A ausência de comunicação por parte desse grupo imenso de polícias terá de ser democraticamente averiguada", diz Bruno Pereira à TSF.
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O líder da plataforma sindical da polícia, Bruno Pereira, considera que a manifestação das forças de segurança que esteve na segunda-feira no Capitólio, onde decorreu o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, não teve qualquer ato que possa ser condenado, mas admite que o protesto tem de ser investigado.
"A ausência de comunicação por parte desse grupo imenso de polícias terá de ser democraticamente averiguada, tal qual a comunicação Ministério Público, porque é feita relativamente, posso dar nota disso, a centenas de manifestações de diversa ordem, natureza e temática que todos os dias vão ocorrendo, muitas delas sem haver uma comunicação prévia", disse o sindicalista à TSF.
Apesar disso, Bruno Pereira diz que não há nada na atuação dos manifestantes que possa ser censurado: "A deslocação para o Capitólio parece-me que deve ser interpretada sobretudo de forma simbólica, ainda que, como digo, desviando daquilo que é total regularidade que a lei impõe. Para mim, não houve qualquer cenário ou episódio que mereça censura do ponto de vista individual, falta de ética, de comportamento desordeiro. Queria pelo menos deixar essa nota e saudar o comportamento mais uma vez sóbrio, ainda que a insatisfação seja imensa e os polícias estejam verdadeiramente cansados."
O líder da plataforma sindical, confrontado com a ordem do diretor nacional da PSP para investigar o protesto, considera não haver nada de estranho, mas recorda que a lei da manifestação tem 50 anos.
"O que os policias fizeram de forma espontânea, ainda que desviados daquilo que a lei das manifestações com 50 anos dita, foi deslocar e fazerem-se ouvir. E fizeram-no, e era isso que eu queria destacar que, sem embargo, como digo, da irregularidade relativamente ao cumprimento da comunicação, mas fizeram-no com bastante elevação, com bastante serenidade e, acima de tudo, quiseram, parece-me, espelhar bem a tristeza e o descontentamento que reina nas suas fileiras, tendo sentido um ataque vil à sua dignidade", afirma.
Questionado sobre se a plataforma está a perder o controlo dos manifestantes, Bruno Pereira rejeita a ideia: "Perda de controlo seria claramente se tivéssemos observado comportamentos completamente inadmissíveis por parte de pessoas que vestem uma farda, que assumiram um compromisso e que são, em primeira linha, os guardiões da democracia e da Constituição. Portanto, devemos olhar para ela como um ato isolado muito simbólico, ainda que também seja verdade, e nós temos lembrado e apelado, a que não se ultrapassem linhas vermelhas, mas também é verdade que há apatia política e incompreensão relativamente a uma não medida que foi assumida pelo Governo e que não foi explicada e, portanto, lamentamos acima de tudo que o Governo tenha ajudado a serenar as hostes e a, pelo menos, explicar aos polícias o porquê nada ter feito."
O diretor-nacional da PSP, o superintendente-chefe Barros Correia, informou esta terça-feira que deu ordem para que seja aberta uma investigação à manifestação não comunicada de segunda-feira, da polícia, junto do Capitólio, em Lisboa.