Olivença tem cerca de 1300 habitantes com nacionalidade portuguesa, mas o fecho das fronteiras deixou-os mais longe de Portugal.
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A Ponte da Ajuda foi fechada ao trânsito, mesmo sem ser considerada zona de fronteira, uma vez que Portugal não reconhece o território de Olivença como espanhol. Ou seja, os regimes de exceção que permitem a abertura de fronteiras em alguns períodos do dia noutros concelhos raianos aqui não têm lugar. Os oliventinos estavam a 20 quilómetros de Elvas e agora estão a 40.
Joaquín Fuentes dá voz às queixas dos habitantes do único concelho espanhol onde para também se ser português basta ter nascido por aqui e ser descendente ou casado com um natural de Olivença.
"Para além de haver já 1300 habitantes com dupla nacionalidade, há aqui pessoas que são trabalhadores transfronteiriços, que trabalham em Elvas e noutras povoações portuguesas", sublinha este oliventino, que dirigiu a Associação Além Guadiana, dedicando-se durante anos a divulgar a cultura portuguesa em Olivença.
Joaquín Fuentes acrescenta ainda que há várias empresas que exportam para Portugal e que têm a "sua passagem lógica" pela ponte de Ajuda. "Ali não fizeram exceção nenhuma para que as pessoas possam circular em alguns períodos do dia, como acontece em outros lados", lamenta.
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Do lado de cá da ponte, Carlos Luna, dirigente do Grupo dos Amigos de Olivença, também não entende a falta de alternativas, alertando que as relações comerciais entre Olivença e o Alentejo saem prejudicadas.
"Aquela população vai ter de passar por Badajoz, entrando em Portugal pela fronteira do Caia, mostrando o bilhete de identidade português. Depois, para regressarem, têm de mostrar o bilhete de identidade espanhol", refere.
Recorde-se que Portugal não reconhece o território de Olivença como espanhol, sendo a ponte da Ajuda encarada apenas com uma passagem sobre o rio Guadiana, que é utilizada por centenas de pessoas diariamente. "Esta situação vai interromper um fluxo razoável de trânsito, sobretudo, dirigido a pequenos negócios", insiste Carlos Luna.
José Ribeiro e Castro, presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, admite que a necessidade de travar a propagação da Covid-19 até "alivia" o fecho da ponte ao trânsito, mas avisa que o tema Olivença não está esquecido.
"Nós não reconhecemos essa fronteira, essa é a verdade. Mas, por outro lado, não é o único ponto de circulação entre as duas administrações em que isso acontece", admite. Sustenta que, face à pandemia, "o importante é que haja contactos entre os dois países que permitam a circulação de pessoas e mercadorias que tenham a ver com abastecimentos essenciais e questões mais urgentes."
A ponte começou por ser fechada apenas com gradeamento, mas, nas últimas horas, voltaram a ser colocados dois blocos de cimento, como aconteceu no início da pandemia.