População de Alcoutim aguarda luz verde da cimeira ibérica para ponte sobre o Guadiana: "Será que é desta?"
Portugal e Espanha vão finalmente formalizar esta quarta-feira na cimeira ibérica os acordos para a construção das pontes de Nisa e Alcoutim
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As duas obras, a ligação entre Alcoutim e San Lucar del Guadiana e entre Nisa e Cedillo (sobre o Rio Sever) terão financiamento europeu e têm sido reiteradamente anunciadas em sucessivas cimeiras entre os dois países. Na semana passada, o Conselho de Ministros espanhol deu finalmente o aval para que os dois projetos pudessem ser desbloqueados na cimeira ibérica e pudessem avançar.
A ponte entre Alcoutim e San Lucar custará cerca de 13 milhões de euros e a entre Nisa e Cedillo12 milhões.
Em Alcoutim vê-se do outro lado da margem o casario branco de San Lucar de Guadiana. Mas entre as duas povoações há um rio a separá-las e só de barco é possível passar. De tanto ouvir falar há décadas no projeto de uma ponte que una os dois lados há já quem duvide que ela se faça. “Ainda eu me reformo primeiro”, diz, a rir, um comerciante. É o mais pessimista a dar a sua opinião para a reportagem.
O presidente da câmara de Alcoutim vê na ponte a possibilidade de desenvolvimento desta zona desertificada do interior algarvio e só lamenta a indecisão de Espanha que atrasou todo o projeto.
“Estivemos 11 meses à espera de resposta do Reino de Espanha”, garante Paulo Paulino. O lançamento do concurso para a obra está, por isso, atrasado em cerca de oito meses. Mesmo assim, o autarca está confiante de que se fará a tempo. Caso contrário, poderá estar em causa o financiamento de 13 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Para o autarca, a ponte é a “réstia de esperança” para desenvolver uma zona que todos os dias perde população e assim ficaria situada na “centralidade entre o Alentejo e a Andaluzia”.
Para a maioria da população de Alcoutim, a ponte só trará vantagens. Sentados num banco de jardim, Rogério e António vão dando o seu aval à obra. Afinal, é um anseio que já tem 30 anos. “Tenho família em Espanha e se houvesse esta ligação eu ia vê-los, assim não posso”, lamenta António. Rogério acredita que é desta que a ponte se vai fazer. "Pode ser que se traga mais movimento, que isto está morto”, lamenta. A distância entre as vilas portuguesa e espanhola seria de cerca de um quilómetro, sem ponte é preciso percorrer 77 quilómetros.
Também Carla que foi viver para Alcoutim há seis anos, quando deixou o bulício de Lisboa, torce para que a ligação entre as duas margens do Guadiana avance. ”Era bom para o comércio, podíamos ir com mais facilidade a Espanha, mas parece que entre os dois países tem havido alguns obstáculos, vamos ver se é desta."
As duas ligações (Alcoutim e Nisa) estão inscritas na Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriça que Portugal e Espanha acordaram em 2020.
