Porto pode ver nascer mais 122 hotéis. Moradores alertam: "Vemos o nosso direito à cidade a ser reduzido"
Segundo o jornal Público e o JN, se todos os projetos receberem luz verde, o Porto pode ficar com 7,61 hotéis por quilómetro quadrado, quase o dobro de Lisboa
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"Numa simples caminhada até ao supermercado vamos encontrar três hotéis", o retrato é feito por Diogo Petiz, representante do movimento Habitação Hoje!, que junta moradores da cidade do Porto.
O jornal Público e o JN adiantam, esta quinta-feira, que está a ser estudada a criação de 122 hotéis no Porto, 63 já estão em fase de construção, enquanto que Lisboa se fica pela inauguração de 54 novas unidades hoteleiras. Isto representa um acréscimo de mais de seis mil quartos no Porto e cinco mil na capital.
Em declarações à TSF, o representante do movimento Habitação Hoje! lamenta que o maior número de hotéis na cidade acabe por "reduzir o direito à cidade" dos moradores. Diogo Petiz lembra que existe uma grande carência de habitação no Porto: "A estratégia local da habitação do Porto indicava que sete mil pessoas estariam em situação de carência económica e estamos agora a falar da possibilidade de seis mil novos quartos, o que também revela uma espécie de impossibilidade política de resolvermos o problema da habitação, mas para o turismo temos esta capacidade brutal de continuar a construir", destaca.
O jornal Público cita dados do Observatório da Associação de Turismo de Lisboa e do Boletim Estatístico de Licenciamento de Empreendimentos Turísticos da Câmara Municipal do Porto, que demonstram que, se os processos tiverem luz verde, o Porto fica com 312 unidades hoteleiras e Lisboa com um total de 388 hotéis.
Diogo Petiz admite que não fica surpreendido com a notícia, mas considera o número um "exagero". "É fruto das propostas que têm vindo a ser realizadas nos últimos anos, embora quando pensamos no último ano, houve uma grande regulação em relação aos licenciamentos. Podia-se repercutir em mais habitações para as pessoas, mas, na verdade, o que nos fica a parecer é que ela está a beneficiar a maior construção de hotéis", defende.
O movimento de moradores do Porto denuncia que estão "a ver o direito à cidade reduzido". "O Porto já está muito saturado e vai ficar ainda mais, vai sobrecarregar não só a baixa, como também os serviços públicos, e empurra-nos para fora da cidade", acrescenta Diogo Petiz.
Já Rubens Carvalho, presidente da Associação Comerciantes do Porto, pede que não se "diabolize o turismo" e alerta que pode ser positivo se vier acompanhado de um melhor planeamento da cidade. "Capacita a cidade em termos de gente e permite uma permanência de pessoas superior àquela que é habitual, mas toda a infraestrutura da cidade não está preparada para isso. Nós vemos ainda hoje em dia o que está a acontecer, quer em termos de trânsito e afluência de pessoas. E o receio é que todo esse contexto faça com que a própria cidade deixe de ser tão atrativa quanto é, quanto foi", começa por dizer Rubens Carvalho, em declarações à TSF, que acrescenta que deve existir uma estratégia quando ao turismo e às infraestruturas existentes.
O líder da organização defende ainda que a Associação de Comerciantes do Porto deve ser ouvida durante o processo de licenciamento.