Porto tem nova escola de calcetaria: trabalhadores da autarquia partem e encaixam pedra na via pública
O município inaugurou, em novembro do ano passado, uma escola de calcetaria com o objetivo principal de preservar a tradição da calçada portuguesa. A TSF acompanhou uma das obras destes calceteiros, mestres e aprendizes
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Na Rua de Entreparedes, no Porto, um grupo de funcionários da câmara municipal prepara-se para dedicar uma tarde a partir e a encaixar pedra, com leves batidas de um martelo.
O município do Porto inaugurou, em novembro do ano passado, uma escola de calcetaria com o objetivo principal de preservar a tradição da calçada portuguesa, que está presente em muitas ruas e passeios da cidade. Esta iniciativa, integrada nos Percursos Formativos do Município, pretende capacitar 35 funcionários da câmara, e conta com mais de 300 horas de formação. A TSF acompanhou uma das obras destes calceteiros, mestres e aprendizes.
No passeio outrora degradado, alguns calceteiros dispõem, de uma forma precisa, basalto, a pedra preta, e calcário, a branca, utilizando um molde com um desenho específico.
Adriano Silva está na profissão há 30 anos. Teve agora a oportunidade de integrar a escola de calcetaria. O mestre vê este projeto da autarquia como uma boa iniciativa.
“É sempre bom haver estas iniciativas para ver se, pelo menos, há mais gente a querer aprender isto, também porque se não forem um bocadinho influenciados nesse tipo de trabalho, então isto cada vez vai indo e vai indo e, quando as pessoas já com mais idade deixarem de fazer isto, vai deixar de haver calceteiros a fazer este tipo de trabalho.”
Adriano sente que há cada vez menos pessoas interessadas nesta arte. Trata-se de um trabalho que, como qualquer outro, requer muita dedicação. Colocar pedra no sítio correto tem a sua ciência.
“As pedras não são todas iguais, temos de procurar a pedra que se encaixa melhor no espaço que lá está, às vezes tenta-se arranjar uma pedra adequada para ali, só que, às vezes, não encaixa, não dá, é grande ou pequena e temos de partir a pedra à feição do buraco que lá está”, explica.
Vítor Carvalho é aprendiz desta arte. Antes trabalhava num restaurante, mas decidiu abraçar esta iniciativa para ganhar uma experiência nova. “Nós, para já, estamos a aprender, o meu chefe de equipa é que já tem mais experiência, o nosso serviço é fazer o traço, prestar um bocado de serventia, daqui a alguns anos será ao contrário, já serão outros a prestar serventia, a quem se calhar hoje está deste lado", explica.
Já Hugo Magalhães, outro aprendiz, entrou na escola para não deixar a arte morrer.
“É uma arte diferente, uma calçada à moda portuguesa tem sempre alguma coisa para nós adquirirmos como experiência. Então, com isso, tendemos a aprender mais uma arte. Eu acho que a arte não deve morrer, é por isso que estou aqui.”
A autarquia também marcou presença nesta ação de formação. Pedro Baganha, vereador com os pelouros do Urbanismo e Espaço Público, explica o objetivo da criação da escola: "Passar estes conhecimentos, passar este know-how dentro dos funcionários da câmara municipal, de tal forma que eles sejam, por um lado, qualificados e, por outro, que esta arte não se perca."
São 38 formações, maioritariamente práticas, mais de 300 horas de aprendizagem, numa escola de calcetaria destinada aos trabalhadores da câmara do Porto.
