Gestora da dívida pública trocou títulos que amortizavam em 2021 e 2022 por outros com fim de vida em 2023 e 2027. Só neste ano o país já adiou o pagamento de 3,8 mil milhões de euros de dívida.
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O IGCP - Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública conseguiu nesta quarta-feira trocar títulos de duas séries de Obrigações do Tesouro (OT) que amortizavam em 2021 e 2022 por outros cujo horizonte de vida termina em 2023 e 2027.
Em comunicado, a instituição liderada por Cristina Casalinho (na foto) informa que comprou 560 milhões de euros de uma série de OT que maturam em abril de 2021 e 350 milhões de outra que amortiza em 2022, vendendo em simultâneo exatamente o mesmo valor em obrigações que terminam em outubro de 2023 (350 milhões) e abril de 2027 (560 milhões).
A operação - a quinta do género só neste ano - permite suavizar o calendário de amortização de títulos: depois dos 4,32 mil milhões de euros (ME) entregues aos investidores titulares de dívida que amortiza neste ano, o país teria, se nada fosse feito, de pagar 16,85 mil milhões em 2020, 21,09 mil milhões em 2022 e 13,62 mil milhões no ano seguinte.
São valores superam em muito, por exemplo, os 11 mil milhões de euros que o setor da saúde recebeu do Orçamento do Estado neste ano.
A troca foi conseguida através da recompra de Obrigações do Tesouro (OT) que chegavam ao fim da vida em abril de 2021 e outubro de 2022 (obrigando, por isso, o Estado a devolver aos compradores o valor investido), vendendo ao mesmo tempo novas obrigações que vencem em outubro de 2023 e abril de 2027.
Como a dívida pública continua a beneficiar de taxas de juro historicamente baixas (algo que acontece desde que em janeiro de 2015 o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disparou a "bazuka", alcunha dada ao programa de compra de 60 mil milhões de euros por mês na compra de ativos, incluindo títulos de dívida pública), este tipo de operação acaba por ter um resultado positivo também a nível dos juros: troca-se dívida mais cara por outra mais barata.
Nas compras de dívida que amortizava no curto prazo, o IGCP pagou um prémio de 6,8% por títulos que pediam 3,85% na série que terminava em 2021, e 8% por títulos que exigiam 2,2%.
A diferença é compensada pelos valores de venda: as obrigações que terminam em outubro de 2023 pede juros de 4,95% mas os títulos foram vendidos por mais 21,5% que o preço original; a dívida que vence a 2027 foi vendida por um preço médio 30,9% acima do valor facial, acima dos 4,95% dos juros respetivos.
Só neste ano, o IGCP já realizou cinco operações desta natureza: em janeiro prolongou a maturidade de 702 milhões de euros de 2020 para 2028; dois meses depois fez o mesmo a 619 milhões de euros, cuja vida terminará em 2030 em vez de 2021. Em maio alargou de 2021 para 2026 o horizonte de vida de 742 milhões de euros, e em julho, prolongou a maturidade de 797 milhões de 2020 e 2021 para 2026 e 2028.