A associação ambientalista Zero considera que Portugal "tem um longo caminho para percorrer", uma vez que o país apresenta uma taxa de reciclagem de 21%, o que quer dizer que 80% dos resíduos não são reciclados, ficando, assim, muito aquém das metas comunitárias para 2025.
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A associação ambientalista Zero considera que Portugal está a "falhar" nas metas de reciclagem de resíduos urbanos, elétricos e eletrónicos, assim como de embalagens de produtos fungicidas, herbicidas e inseticidas, sementes e pilhas.
De acordo com o Barómetro da Reciclagem relativo a 2021, os números de Portugal nesta área estão muito aquém dos objetivos comunitários definidos até 2025. Ouvido pela TSF, Rui Berkemeier, da associação ambientalista Zero, aponta os valores da taxa de reciclagem de resíduos urbanos, que inclui, produtos orgânicos, plásticos, vidro e papel.
"De facto, temos uma taxa de reciclagem de 21%, ou seja, quase 80% dos resíduos não são reciclados, o que é, de facto, um dado muito deprimente e que mostra que o país tem um longo caminho para percorrer", considera, relembrando que a meta comunitária de reciclagem para 2025 é de 55%.
O especialista afirma que há "um problema gravíssimo na questão dos equipamentos elétricos e eletrónicos, onde as entidades gestoras que são responsáveis pela sua recolha e tratamento apenas recolheram 14,5% dos resíduos". "Estamos a falar de uma meta que era de 65%", atira.
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"Temos também um problema de saúde e ambiental com as embalagens de produtos fitofarmacêuticos e de biocidas, onde só recolhemos cerca de metade dessas embalagens e, portanto, isto é um valor muito baixo. Há muitas embalagens com produtos tóxicos que acabam por ser espalhadas na natureza, no ambiente e com um risco para a saúde pública", sublinha.
Na base das percentagens baixas de reciclagem estão vários motivos, no entanto, Rui Berkemeier sublinha um: a falta de incentivos e o atraso em fazer cumprir a legislação.
"Todos os mecanismos económicos que envolvem a gestão dos resíduos, em vez de incentivarem a separação, a recolha e a própria prevenção, não premeiam as entidades, as pessoas, as câmaras municipais que procedem à reciclagem. O que nós defendemos é que tem de haver mecanismos económicos que, efetivamente, premeiem quem recicla e penalizem quem não faz", refere, dando o exemplo do sistema de depósito e retorno, onde "quem recolhe é premiado pela entrega dos materiais".
"No caso das embalagens, por exemplo, nós tivemos uma lei que foi aprovada em 2018, que devia entrar em vigor no terreno a 1 de janeiro de 2022, mas já estamos em 2023" e o sistema ainda não está desenhado, explica.
A ideia seria criar um sistema "de recolha de embalagens com depósito e retorno, ou seja, a pessoa, quando comprava um produto embalado para bebidas, neste caso, uma garrafa de água, pagava uma taxa extra".
"Se devolvesse a garrafa para a reciclagem, essa taxa era devolvida e, desta forma, - pelo menos é o que acontece em quase todo o mundo -, as taxas de recolha atingem os 90/95%. Este é um exemplo e há muitos outros que podemos dar como soluções que Portugal devia ter e que tarda em ter", acrescenta.
O barómetro da Zero é publicado esta quarta-feira para assinalar o Dia Internacional da Reciclagem.