Numa entrevista à revista britânica The Economist no início de novembro, o Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou que "a NATO está em morte cerebral".
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Portugal pode ajudar os países da NATO a convergir e a entenderem-se, afirmou esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em Londres, onde começa a cimeira da Aliança Atlântica.
"Contribuímos para a convergência porque cultivamos internamente o diálogo, moderação, equilibro, e isso são componentes de que a NATO precisa muito e beneficia. Países da dimensão de Portugal são necessários para a Aliança por causa desta atitude de equilíbrio e aproximação", afirmou aos jornalistas.
O chefe da diplomacia portuguesa respondia a perguntas sobre as críticas desta terça-feira do Presidente dos EUA, Donald Trump, ao homólogo francês, Emmanuel Macron. Numa entrevista à revista britânica The Economist no início de novembro, o Presidente francês, Emmanuel Macron, considerou que "a NATO está em morte cerebral" e sugeriu o desenvolvimento de uma defesa europeia autónoma, mas Trump considerou que as declarações de Macron foram "muito desagradáveis" e "muito insultuosas".
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Apesar desta troca de palavras, o ministro dos Negócios Estrangeiros português acredita que na cimeira vai prevalecer um clima de unidade.
"Podemos ter diferenças de tom, podemos ter diferenças de estratégias comunicacionais, mas convergimos no essencial, e para que essa convergência seja possível, é muito importante a posição de países como Portugal", afirmou aos jornalistas.
O projeto de declaração política, adiantou, vai abordar temas como o empenho de todos na Aliança, a cooperação com a União Europeia e Nações Unidas, a luta comum contra o terrorismo internacional e a estratégia de duplo registo com a Rússia, combinando a dissuasão militar necessária e com um diálogo político.
"Temos um inimigo de todos que é o terrorismo internacional, temos desde 2014 a nova ameaça protagonizada por uma conduta agressiva da Rússia, designadamente com a anexação ilegal da Crimeia, e temos a necessidade de compreender melhor o que está a acontecer no mundo e as questões que se colocam à Aliança", vincou.
Augusto Santos Silva acompanha o primeiro-ministro, António Costa, que vai reunir-se com líderes de 29 outros países que participam a partir de hoje numa cimeira da NATO em Londres, coincidindo com o 70.º aniversário da aliança militar que protege cerca de mil milhões de pessoas.
Além de um balanço do papel da NATO na luta contra o terrorismo, nomeadamente avaliando missões no Iraque e no Afeganistão e o papel na prevenção do ressurgimento do Estado Islâmico e de outros grupos terroristas, vão debater a resposta da NATO à violação do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF) por parte da Rússia, as implicações da ascensão da China e as ameaças à cibersegurança.
"O medo está de volta sob outra forma"
Para o professor universitário e investigador do IPRI (Instituto Português de Relações Internacionais), Tiago Moreira de Sá, esta cimeira acontece num momento em que se assiste ao regresso do medo.
"O medo está de volta sob outra forma. Não estou a comparar a Rússia com a União Soviética, mas desde logo a Rússia constitui hoje uma ameaça comum e a NATO é feita com base em interesses comuns, valores comuns, mas também em ameaças comuns", explicou Tiago Moreira de Sá no programa da TSF Mapa Mundo.
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Para o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, Carlos Gaspar, talvez seja bom para a Aliança Atlântica que Trump e Hollande não digam a mesma coisa ao mesmo tempo.
"Eles consideram que a NATO é obsoleta e que está em morte cerebral. Felizmente não dizem a mesma coisa ao mesmo tempo e quando um diz que a NATO está obsoleta, o outro diz que não, que está forte", afirmou Carlos Gaspar.
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