Portugal regista 5033 mortes nos primeiros 15 dias de agosto. Novo máximo desde 2018 exige "reflexão" sobre pobreza energética
As causas para este fenómeno ultrapassam, contudo, a saúde como "fenómeno estrito" e abrangem a "saúde em todas as políticas": além da questão fundamental do "controlo das doenças crónicas", é preciso pensar na "importância clara da climatização", mas também na pobreza energética
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As mortes registadas nos primeiros 15 dias do mês de agosto atingiram, este ano, novos máximos desde 2018, tendo sido registadas 5033 mortes. O líder da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública alerta para a importância da climatização dos espaços.
Os valores foram avançados pelo Diário de Notícias, que citada dados disponibilizados pelo SICO - Sistema de Informação dos Certificados de Óbito: 350 pessoas morreram a 7 de agosto, considerado o pior destes 15 dias.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou distritos do continente sob aviso laranja, o segundo mais grave, por causa do calor, no dia 11 de agosto. As temperaturas máximas variaram entre os 25 graus Celsius (Viana do Castelo) e os 43 graus Celsius (Beja e Évora).
Em declarações à TSF, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Bernardo Gomes, confessa que não está surpreendido com o aumento da mortalidade em Portugal. Explica que, até ao final do ano passado, houve uma "época relativamente leve do impacto das doenças respiratórias", sobretudo devido à "boa proteção da vacina da gripe e Covid". No entanto, isso criou um "maior número de pessoas vulneráveis disponíveis para serem expostas a um stressor externo, neste caso, o calor".
"Se olharmos de forma isolada para este período temporal, temos comprovadamente excesso de mortalidade — que os organismos públicos, nomeadamente na área da saúde pública e também com o apoio do IPMA, tentaram mitigar com vários avisos à população para proteção, para tentar reduzir um impacto que era expectável face a estas circunstâncias", vinca.
As causas para este fenómeno ultrapassam, contudo, a saúde como "fenómeno estrito" e abrangem a "saúde em todas as políticas": além da questão fundamental do "controlo das doenças crónicas", na qual a existência de um médico de família se torna fator "estrutural" para o seu êxito, é preciso pensar na "importância clara da climatização", mas também na pobreza energética.
"Temos de pensar na importância clara da climatização — nomeadamente em instituições que têm o dever de cuidar de indivíduos mais vulneráveis —, as cidades têm de programar o seu urbanismo no contexto de terem zonas protegidas do calor — a questão da cobertura por árvores, da abordagem das chamadas ilhas de calor para mitigação desses efeitos — a pobreza energética nas vertentes tanto do acesso à energia, como também da própria qualidade da construção das casas ou em necessidade de reabilitação e investimento", aponta.
Portugal registou 20 dias consecutivos com excesso de mortalidade, com mais de 1300 óbitos acima do esperado, avança o jornal Público.