O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa coordena a comissão responsável por elaborar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, apresentada esta sexta-feira ao Governo. Em entrevista, defende que é preciso eliminar a pobreza geracional em Portugal e antecipar as consequências sociais da pandemia.
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Com o agravar da qualidade de vida de muitos devido à pandemia, o provedor de Santa Casa da Misericórdia de Lisboa defende que é preciso "preparar um embate mais duro", com um possível agravamento da situação de pobreza em Portugal.
"Temos que nos preparar para isso", refere, acrescentando que já é possível antecipar problemas com potencial de se agravarem com a pandemia.
"Sabemos que há um momento em que todos os apoios que hoje estão de pé hão de cessar e é preciso preparar esse momento com antecedência para minimizar os riscos que isto pode representar para muitas famílias em Portugal", afirma.
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Edmundo Martinho foi escolhido pelo governo para liderar a comissão responsável pela Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, criada com o objetivo de encontrar respostas para atenuar as desigualdades e responder à degradação das condições de vida em Portugal.
O provedor fala de "um instrumento importantíssimo" porque pretende ser um documento de referência para todas as intervenções no domínio da pobreza.
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De acordo com Edmundo Martinho, a estratégia pretende abordar a questão da pobreza numa dupla dimensão. Por um lado, preparar respostas conjunturais de forma a fazer face aos tempos de pandemia. Por outro lado, e uma vez que se trata de uma estratégia para a próxima década, Edmundo Martinho defende que a estratégia tem que ser capaz de ir às questões mais estruturais da pobreza.
Uma outra ambição da estratégia é eliminar a pobreza geracional "para assegurarmos que uma criança que nasce numa família pobre, não tem necessariamente que se tornar num adulto pobre".
O provedor afirma que a pobreza acaba por se reproduzir de geração em geração, defendendo que "temos que ser capazes de quebrar em algum ponto ou em algum momento".
Para Edmundo Martinho, a situação mais complexa é o caso de 1,1 milhões de portugueses que apesar de trabalharem, vivem na pobreza.
"Nós sempre ouvimos dizer que a forma mais eficaz de sair da pobreza era o trabalho. Mas também sabemos que nós temos em Portugal um número relativamente elevado de trabalhadores que ainda vivem em situações de pobreza", lamenta.
A estratégia pretende combater este tipo de pobreza, dando mais atenção a famílias com filhos e agregados com idosos à sua guarda.
"Tem havido um reforço substancial do abono de família mas, eventualmente, é preciso ir um bocadinho mais longe e perceber que é preciso intervir do lado dos salários - isso faz-se com qualificação e com outro tipo de abordagem do mercado de trabalho. Mas também se pode fazer atuando sobre as zonas que fragilizam ainda mais a situação e as condições das famílias. Seja cuidar das pessoas mais velhas que têm a seu cargo, seja porque são famílias que têm crianças pequenas", afirma.
A Estratégia Nacional de Combate à Pobreza vai também centrar-se em eixos relacionados com a habitação, a pobreza associada aos territórios, o acesso a serviços e direitos e o acesso à saúde.
Além de Edmundo Martinho, a comissão responsável pela Estratégia Nacional de Combate à Pobreza é composta por Carlos Farinha Rodrigues, Rui Marques, Rute Guerra, Ana Rita Gonçalves e Fernanda Rodrigues.