Português prestes a completar cem maratonas em cem dias em nome da paz: "Construir pontes e não muros"
Pedro Queirós quer angariar cem mil euros para construir uma escola no Nepal e para promover a paz entre Israel e a Palestina
Corpo do artigo
O português Pedro Queirós está prestes a completar o objetivo de correr cem maratonas em cem dias: tudo em nome da paz. A meta inicialmente estabelecida deve ser cumprida este domingo, quando chegar a Auschwitz, na Polónia. Num percurso com vários percalços “físicos, emocionais e logísticos”, o atleta amador, de 44 anos, encontra-se em solo polaco desde a manhã desta quinta-feira, onde pretende completar uma iniciativa que visa angariar cem mil euros para projetos no Nepal e de promoção de paz entre Israel e Palestina. Em entrevista à TSF, Pedro Queirós explica o objetivo deste desafio.
"O Run for Peace foi criado para suportar duas causas distintas: a primeira é construir uma escola de raiz em Katmandu, no Nepal. Há dez anos, eu estava presente e senti a terra a tremer, o chão a fugir debaixo dos pés. Com as cem maratonas em cem dias pretendo angariar cem mil euros e metade do valor, ou seja, 50 mil euros, é então para construir uma escola de raiz no Nepal", começa por explicar à TSF Pedro Queirós.
"Os outros 50 mil euros são para distribuir igualmente: 25 mil euros são para a associação Hand in Hand, uma rede de escolas mistas com dois mil alunos, em que metade são estudantes árabes e a outra metade são os estudantes judeus. Os outros 25 mil euros são para a Combatants for Peace, uma associação absolutamente inspiradora, fundada por ex-soldados israelitas e palestinianos, que já foi nomeada duas vezes para o Nobel da Paz. Fazem um trabalho incrível todos os dias, marcham até à fronteira de Gaza com sacos de comida. São pessoas dos dois lados, de Israel e da Palestina, que tentam, através do ativismo, terminar com a fome e com o conflito através do diálogo, fazer um caminho para a paz, construir pontes e não muros", sublinha.
Pedro Queirós afirma que teve de se "ir adaptando aos percalços". "Houve dias em que parei para descansar, mas, depois, houve outros em que fazia uma maratona e meia para recuperar terreno. Foram percalços físicos, emocionais e logísticos. Estou a fazer isto com a mochila às costas, com cerca de 2,5 quilos, em que levo muda de roupa, comprimidos, tudo o que necessito. É um projeto em autonomia total”, conta, também em declarações à agência Lusa.
Desde 25 de abril, data em que arrancou da Praça do Comércio, em Lisboa, Pedro Queirós realizou dez maratonas em Portugal, 25 em Espanha, 16 em França, oito na Suíça, 18 em Itália, sete na Eslovénia, seis na Áustria, seis na Eslováquia e a primeira de quatro na Polónia, após cruzar o ponto de confluência entre os territórios eslovaco, checo e polaco, o que lhe despertou “uma grande alegria”.
“Eu sei que é uma linha imaginária, mas é sempre uma sensação de euforia a dobrar. É menos um país que me falta cumprir e mais um país que estou a conquistar. Neste caso, é o último. O destino está a chegar daqui a três dias”, enfatiza, antecipando a chegada ao antigo campo de concentração da Alemanha nazi.
Habituado a correr com gente ao lado entre Lisboa e o Minho, num sinal de reconhecimento para com o ‘Run for Peace’, nome do projeto, o atleta viu-se sozinho quando chegou a Espanha e contraiu uma tendinite no tendão de Aquiles direito na 14.ª maratona, a chegar a Santiago de Compostela.
Na 27.ª corrida, em Madrid, Pedro Queirós desmaiou por “cansaço extremo” à noite, após parar num jardim, e, na 46.ª, em 15 de junho, atravessou Paris num contexto “difícil em termos emocionais”, com a esposa, iraniana, e o filho retidos em Teerão, face aos ataques israelitas, após ter planeado encontrar-se com eles na capital francesa.
A rotina diária do lisboeta inclui a maratona, por norma realizada entre as 05h00 e as 11h00 do país em que se encontra, a seleção do local para pernoitar, a lavagem da roupa, as idas à farmácia para adquirir os medicamentos essenciais e a ingestão de cinco mil calorias, sem ultrapassar um orçamento diário de 50 euros.
Ao 75.º dia do traçado de mais de 4200 quilómetros, o ‘Run for Peace’ tinha reunido pouco mais de 46 mil euros para a construção de uma escola no Nepal, infraestrutura à qual Pedro Queirós tenciona destinar 50 mil euros, e para o apoio a duas associações que almejam a paz entre Israel e Palestina.
Garantido através de doações, de eventos ou de leilões, que incluem camisolas de Sporting, Benfica, FC Porto e Sporting de Braga ou de atletas como o canoísta Fernando Pimenta e o ciclista João Almeida, o montante tem crescido nos últimos 20 dias, mas Pedro Queirós só vai divulgar o valor total em 15 de agosto, em solo português.
Antes, espera cumprir as distâncias que lhe restam, chegando no sábado a Cracóvia e no domingo a Oswieçim – nome polaco para Auschwitz, local onde se estima que mais de um milhão de pessoas tenha morrido durante a 2.ª Guerra Mundial –, com a noção de que qualquer maratona é “sempre difícil”.
“Fazer uma maratona é muito difícil. Quanto mais quatro ou 100. Tem de haver muito respeito pela distância, muito foco, muita concentração, seja na parte física, na alimentação, na recuperação. Mas, quando o propósito humanitário existe, todos os dias se renova a vontade”, remata.
