Um dos bebés saiu de Portugal com três meses de idade. Crianças e mulheres, não se sabe exatamente quantas ainda estão vivas, vivem hoje em campos de refugiados.
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Seis dos oito portugueses acusados esta semana pelo Ministério Público por recrutamento, adesão e apoio à organização terrorista Estado Islâmico tinham, ao todo, 24 filhos e 13 mulheres na Síria.
O paradeiro dos seis homens é incerto e cinco podem mesmo já ter morrido, sendo que o sexto foi detido a meio de 2019 pelas tropas curdas.
Crianças em campos de refugiados
No entanto, além dos homens a acusação consultada pela TSF revela que atualmente as suas mulheres e os seus filhos estão em dois campos de refugiados depois de serem capturados pelas Forças Democráticas Sírias.
A maioria das crianças nasceram na Síria e pela nacionalidade dos pais poderão ter direito à nacionalidade portuguesa, mas há pelo menos três que já têm cartão de cidadão português.
Nomeadamente, uma criança nascida na Tanzânia em 2012, outra nascida no Reino Unido também em 2012 e outra nascida em Portugal em 2013, mais precisamente em julho no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora.
Bebé viajou de Portugal para a Síria
Segundo o Ministério Público o pai, Edgar Costa, agora acusado, tinha regressado em 2012 a Portugal e esperou que o filho nascesse para partir e levá-lo para o país em guerra.
A viagem do bebé, acompanhado da mãe e do pai, foi feita em outubro de 2013 via Alemanha e Turquia antes de entrar na Síria, quando o menor tinha menos de 3 meses de idade.
Família quer repatriar crianças e mulheres
A acusação mostra que a família de Edgar e do irmão Celso (que também foi combater para a Síria) tentavam a meio de 2019 encontrar apoios para repatriar as mulheres e os filhos para Portugal.
Segundo o Ministério Público, Edgar acabou por ter mais dois filhos na Síria. O irmão, Celso, tinha três mulheres e cinco filhos.
Entre os outros acusados, Sadjo Turé tinha três filhos, Fábio Poças dois e Sandro Marques um.
Finalmente, Nero Saraiva, o português que esteve mais tempo a combater ao lado do Estado Islâmico, tinha cinco mulheres e um total de dez filhos.
Investigação "inédita" durou seis anos
A acusação do Ministério Público sublinha que a investigação agora fechada tem uma "extrema gravidade" e é "inédita" em Portugal.
A investigação sistemática durou seis anos e permitiu "descrever e reconstruir, do ponto de vista criminal, mas também histórico e sociológico, a radicalização organizada de um grupo de cidadãos portugueses e a sua deslocalização para a Síria, com as suas mulheres e filhos, para integrarem as fileiras do Estado Islâmico e cumprirem a jihad (guerra santa)".