Um total de 98% dos condutores ainda circulam com veículos movidos a combustão e apenas 2% optou por um carro elétrico.
Corpo do artigo
Nem sempre o que se deseja é o que se tem. Parece ser esta a principal conclusão do estudo sobre "Mobilidade Elétrica em Portugal", divulgado esta quarta-feira pelo ACP - Automóvel Club de Portugal.
A esmagadora maioria não possui carro elétrico (98%), sobretudo os mais velhos, das regiões Centro e Norte e da classe média (C1 e C2).
O estudo começou por caracterizar a realidade nacional e verificar que, em Portugal, em média, existem dois automóveis por agregado familiar e quem possui mais viaturas são homens, mais jovens, da classe mais alta, com domínio da região centro e mesmo com carro elétrico possuem, em média, mais viaturas.
Setenta e oito por cento afirma que conduz regularmente o próprio veiculo, mas quase metade do parque automóvel (46%) é composto por viaturas entre 12 e 13 anos, e cerca de metade (51%) adquiriu o seu carro a pronto pagamento e 67% faz, no máximo, até 1000 km por mês.
Os automóveis com combustíveis "verdes" ainda têm pouco impacto no parque automóvel português. Predominam os veículos a diesel e gasolina, com percentagem de 66%, e apenas 1 em cada 3 não pretende trocar/comprar carro, enquanto 55% admite trocar de veículo, mas a longo prazo.
Para 34%, os carros elétricos têm uma autonomia entre 201 e 400km, mas para se sentirem confortáveis a autonomia deveria ser superior a 401km (52%).
Quase metade aponta para uma duração de vida da bateria de um carro elétrico inferior a nove anos e apesar da baixa autonomia e da pouca durabilidade das baterias associadas aos carros elétricos, estes são vistos por 40% com menores custos de manutenção do que os carros a combustão.
Perto de metade também assume dificuldade em encontrar locais para carregar automóveis elétricos e para dois em cada cinco inquiridos é difícil carregar automóveis elétricos em casa.
O preço ainda continua a ser um constrangimento apontado nesta investigação. Para 63%, é possível comprar um carro elétrico até 40.000€, mas 55% também aponta um teto máximo de 30.000€ para assumir a probabilidade de compra.
Colocada a hipótese de compra de um elétrico, quase metade dos inquiridos optaria por uma marca tradicional, enquanto 24% optavam por uma nova marca.
Um em cada três já pesquisou online sobre carros elétricos e um em cada dez já fez um test-drive e/ou visitou um stand. Em especial, homens, idades inferiores a 44 anos e das classes mais altas, sendo que 59% assume que, atualmente, é mais barato circular com um veículo elétrico do que um movido a combustão.
Mas, na hora de decidir a compra, a análise revela ainda uma divisão quanto à futura aquisição de um elétrico: para 43%, essa não seria a opção, enquanto 47%, ainda que a longo prazo, admite comprar um veículo mais amigo do ambiente.
Pouco mais de dois por cento dos inquiridos possui já carro elétrico e, desse universo, a maior parte são homens, em especial da região centro e da classe alta. Deste universo, cerca de três em cada quatro são os responsáveis pelo carregamento e pagamento das despesas do carro elétrico, sobretudo quem tem mais de 35 anos e pertence a classes mais altas, em zonas como Lisboa e o sul do país.
Quanto à caracterização do parque de elétricos em Portugal, a grande maioria (86%) tem menos de cinco anos e terão sido adquiridos mais por homens, com idades superiores a 45 anos, da classe A/B e da região centro.
Cinquenta e nove por cento afirma que efetua, em média, mais de 400km por mês com o veículo elétrico, sendo pouco frequentes as viagens superiores a 90km. A maioria garante que faz entre um e três carregamentos semanais (65%) e gasta até sete euros por carregamento em casa (54%) e até 50 euros mensais (58%).
A bateria de um em cada três automóveis elétricos tem capacidade entre 40KWh a 70KWh (32%) e a do carregador interno tem capacidade entre 7KWh a 22KWh (30%).
Quase metade dos veículos elétricos possuem uma autonomia entre os 150Km e os 300Km (43%) e mais de metade (56%) demora mais de três horas a carregar.
O carregamento é feito com maior frequência em casa, seguindo-se dos postos públicos e, por último, do trabalho, mas carregar o carro nos postos normais é mais frequente do que os restantes, sendo os menos utilizados os ultra rápidos.
Ao escolherem o local para carregar os seus veículos, 75% dos condutores optam em primeiro pelo preço mais baixo, seguindo-se que prioriza a localização e só depois quem opta por carregadores rápidos com mais potência. Já a escolha do local é feita por 33% dos condutores através da app, 23% opta pelos locais que já conhece e 18% utiliza o computador de bordo.
Encontrar um posto de carregamento livre e em funcionamento é apontado por 41% como a principal dificuldade de carregar em locais públicos, enquanto 30% indica que é mesmo difícil encontrar um ponto de carregamento disponível e a maioria considera mesmo que a maior dificuldade em encontrar um posto de carregamento está nas pequenas cidades e vilas e nas áreas rurais.
Vinte e cinco por cento aponta o Alentejo como a zona do território onde é mais difícil encontrar postos de carregamento, mas 20% afirma nunca ter sentido dificuldades em nenhuma região dos país.
Entre os comercializadores de eletricidade para a mobilidade e as entidades que vendem a energia elétrica aos utilizadores de veículos elétricos (designados por CEME), a Edp e Galp Electric são os mais utilizados (38% e 19% respetivamente). Cerca de dois em cada cinco não tem contrato com um destes operadores, mas entender o preço que paga no comercializador pela eletricidade é para 30% uma tarefa difícil.
Já quanto aos meios de pagamento deste tipo de serviço, o método mais utilizado é o cartão do comercializador. Cerca de 40% recorre a esta forma de pagar e revela que o preço é o critério mais importante na escolha do operador.
O estudo revela ainda que 89,2% dos inquiridos tem carta de condução e destes apenas 2,2% possui carro elétrico, ou seja, o estudo incluiu 1550 entrevistas, das quais 1200 são indivíduos, mas excluiu 130 por não terem carta de condução. Obteve-se ainda um reforço amostral de 480 condutores com veículos elétricos, que foram analisados conjuntamente com os 24 resultantes da amostra aleatória.
Mais de metade optava por um automóvel com uma fonte de energia amiga do ambiente, com a maioria a revelar que é a preocupação com o ambiente que promove a compra de carros elétricos, mas o preço e a autonomia são os principais entraves.