Em vez de 6 passageiros, a carrinha transportava 12 pessoas e o motorista. A polícia está a investigar esta forma de transporte, considerada "uma tradição" entre portugueses na Suíça.
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Em conferência de imprensa, na tarde desta sexta-feira, as autoridades francesas reforçaram a necessidade de investigar o acidente pelo facto de a carrinha que transportava os 13 portugueses (incluindo o motorista) só ter capacidade para seis passageiros.
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O procurador de Moulins acrescentou que "é preciso verificar se o furgão foi alterado para transportar 13 pessoas".
O motorista da viatura, de 19 anos, foi o único sobrevivente e ainda não prestou depoimento à polícia porque "está em estado de choque", indicou a polícia.
Uma tradição sem garantias de segurança
O recurso a este tipo de transporte em carrinhas sobrelotadas é frequente entre a comunidade portuguesa na Suíça.
"Não é nada de novo", disse à TSF Manuel Beja, antigo presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas advertindo que há muito que avisou as autoridades portuguesas e suíças para a necessidade de serem tomadas medidas.
"Há cerca de 40 carrinhas, pessoalmente conheço algumas, que fazem a circulação entre a Suíça e Portugal todas as semanas. É da tradição neste período da Páscoa as pessoas trabalharem ate ao último minuto em que são obrigadas, apanhar uma dessas carrinhas e depois deslocarem-se para Portugal".
"A maior parte dessas carrinhas tem apenas um chauffer que muitas vezes se encontra esgotado com excesso de horas de trabalho e não há controlo nisso. Fazem viagens Portugal - Suíça em períodos de 20, 24 horas".
Neste tipo de viagens, o preço " é muito mais convidativo" porque "as pessoas não têm os meios financeiros que tinham há uns anos e aproveitam o meio de transporte mais económico".
"Isso é normal, o que não é normal é que o serviço não ofereça às pessoas garantias de segurança", defendeu o antigo conselheiro das comunidades portuguesas.
Manuel Beja adiantou que já foi feita uma campanha de sensibilização junto dos emigrantes apelando para as pessoas "moderarem o seu interesse por esse transporte".
Segundo o antigo conselheiro das comunidades, "o grande problema é em França", onde os controlos policiais não serão tão apertados como os que são feitos a autocarros.
O transporte em carrinhas sobrelotadas "é um tema já muito velho que infelizmente tem um rasto trágico por trás", conclui Manuel Beja.
Governo pede comportamentos adequados
Ouvido pela TSF, o secretário de Estado das Comunidades destacou a necessidade de os emigrantes adotarem " comportamentos adequados do ponto de vista da segurança".
José Luís Carneiro diz que "há um esforço que tem que continuar a ser feito por todos para sensibilizar todos aqueles que vão para a estrada para a necessidade de terem todos os cuidados de segurança e salvaguarda".
O governante revelou que está a ser preparada a "reconfiguração de campanha de sensibilização" para os trabalhadores portugueses no estrangeiro, "mas muito vocacionada para as questões do trabalho e das condições laborais".
Portugal apoia trasladação
O secretário de Estado das comunidades adiantou à TSF que as vítimas do acidente tinham como destino quatro concelhos dos distritos de Viseu e Aveiro: Oliveira de Azeméis, Castelo de Paiva, Cinfães e Sernancelhe, havendo ainda a possibilidade de mais municípios figurarem nesta lista.
O Estado português vai prestar apoio às famílias das vítimas na trasladação dos corpos.
Em comunicado, o ministério dos Negócios Estrangeiros adiantou que "os serviços consulares, quer em Lisboa quer em França, designadamente os Consulados-Gerais em Paris e em Lyon, estão a acompanhar as diligências que as autoridades francesas estão a desenvolver".
Os 12 portugueses, com idades entre os 7 e os 63 anos, morreram na sequência de um choque frontal entre a carrinha em que seguiam e um veículo pesado, cerca das 23:45 de quinta-feira, na estrada nacional 79, perto de Lyon, na localidade de Moulins (centro).
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e os primeiros-ministros português, António Costa, e francês, Manuel Valls, expressaram condolências às famílias das vítimas.