'Pouca terra'... poucos transportes. Uma viagem de comboio para discutir mobilidade no Interior
A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes organiza a conferência sobre carris em andamento, para debater os desafios da mobilidade nos territórios com menos população.
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O comboio, que sai de Lisboa pela manhã, chega hoje à Covilhã com onze minutos de atraso. Coisa pouca para Filipa, passageira deste Intercidades, que já apanhou demoras bem piores. "Às vezes, chega a um atraso de meia hora ou o comboio até é suspenso", desabafa a jovem, que faz esta viagem quinzenalmente, para ir para a universidade.
"É claro que isso afeta a minha vida, eu tenho aulas", explica. "É muito complicado"
Os problemas de quem viaja no Interior não se ficam pelos atrasos e supressão dos transportes. Também os preços são muito superiores aos praticados nos grandes centros urbanos, admite Ana Paula Vitorino, presidente da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).
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"Como a população é dispersa, a procura também é menor e, portanto, é mais difícil criar sustentabilidade financeira para os operadores de transporte", constata.
É por isso que, defende Ana Paula Vitorino, "o empenhamento público tem de ser maior".
"Nós não podemos estar na área metropolitana de Lisboa ou na área metropolitana do Porto e ter passes a 40 euros e depois, no Interior, só para fazer uma deslocação, as pessoas pagarem muito mais", declara.
É, por isso que, esta terça-feira, este comboio se transforma numa sala de conferências sobre carris, onde se se debatem os problemas da mobilidade nos territórios com baixa população.
Vila Franca de Xira, Santarém, Entroncamento, Abrantes, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco, Fundão, e, finalmente Covilhã. A cada paragem, junta-se um autarca, para explicar aquilo que o Interior enfrenta, no que aos transportes diz respeito.
"Algumas localidades apenas têm um transporte de manhã, no sentido das freguesias rurais para a cidade, e depois da cidade para essas mesmas freguesias", nota, com preocupação, o presidente da câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues.
"Temos de pensar em termos de mobilidade e em termos de serviços - as questões relacionadas com a saúde, com consultas especializadas, com consultas no centro de saúde ou no hospital, em que, necessariamente, as pessoas têm de se deslocar à cidade", aponta o autarca.
Alertas que não chegaram à ministra da Coesão Territorial durante a manhã - uma vez que Ana Abrunhosa não esteve presente na viajem de comboio, ao contrário do que estava previsto. Terão de chegar durante a tarde, quando a conferência passa da linha do comboio para o campus da Universidade Beira Interior - aí com a presença da governante já assegurada.