Pelo menos três associações do setor da produção e alimentação animal pedem ao governo que prolongue por mais meio ano o aumento da percentagem mínima de biocombustível no gasóleo.
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O muito gasóleo que se tem gasto a menos em Portugal nos últimos meses pode fazer aumentar o custo da alimentação dos animais e, no limite, o preço da carne e do leite.
Razões que levam várias associações do setor a pedirem ao Governo que prolongue por mais sete meses, até ao final do ano, o aumento da percentagem de biodiesel no gasóleo.
O assunto está em cima da mesa nas medidas pedidas pelo setor agrícola para travar os efeitos da crise provocada pela Covid-19.
Aliás, em abril o executivo decidiu, num despacho do Ministério do Ambiente, aumentar para 6,75% a percentagem mínima de biodiesel no gasóleo. Uma medida que caduca a 2 de junho, um mês depois do fim do estado de emergência.
Pelo menos três associações do setor, a Associação Nacional de Armazenistas Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas, a Associação Portuguesa dos Alimentos Compostos para Animais e a Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite, pedem que essa percentagem mínima seja prolongada até ao final do ano, numa preocupação registada no último balanço dos impactos da crise feito pelo gabinete de planeamento do Ministério da Agricultura.
Como o consumo de gasóleo afeta o preço da carne
Jaime Piçarra, secretário-geral da associação das empresas que fazem alimentos para animais, explica à TSF que as chamadas sementes de colza são transformadas dividindo-se, depois, em 20% para biodiesel (misturado com o gasóleo) e 80% para farinha dada aos animais - suínos, aves e ruminantes como as vacas.
O problema é que o confinamento e mesmo as primeiras semanas do pós-estado de emergência baixaram drasticamente o consumo de gasóleo e os depósitos de biodiesel estão cheios.
Pelo contrário, a farinha não deixou de ser comida pelos animais que não foram afetados pelo confinamento nem pelo lay-off ou pelo teletrabalho.
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"As empresas que fazem a extração das sementes de colza têm neste momento os tanques completamente cheios de biodiesel que não conseguem escoar para as gasolineiras e assim não conseguem continuar a fazer a extração das sementes que está parada, afetando aquilo que é uma fonte importante para a alimentação dos animais", detalha Jaime Piçarra.
No limite, admite o responsável, mais custos podem significar preços mais caros para os consumidores ou então mais importações num momento em que tanto se promove o consumo de produtos nacionais.
Primeiro despacho não chega
O despacho de abril ficou longe de ser suficiente para escoar o biodiesel: demasiado mantém-se nos tanques à espera do retomar da circulação nas estradas que ainda não chegou aos níveis pré-pandemia.
O representante das empresas que fazem alimentos compostos para animais diz que, em consequência, perante a falta de farinha de colza, têm de importar soja ou girassol, aumentando os custos de produção que aumentarão, no final, o preço dessa comida, o que pode, segundo afirma, "causar um colapso" dos exploradores pecuários que já estão muito prejudicados pela crise.
A Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite também defende que é preciso prolongar o aumento da percentagem de biodiesel no gasóleo, temendo um problema acrescido para o setor já muito pressionado por outros problemas provocados pela crise da Covid-19.
O secretário-geral da federação, Fernando Cardoso, admite que estão muito preocupados pois, "por incrível que pareça, o preço das matérias-primas da alimentação animal está muito dependente de outros setores da economia, inclusive dos combustíveis".