Cerimónia dos Prémios Gazeta 2023 fica marcada pelo tom de preocupação com o setor dos média em Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa apela a "entendimentos de regime" antes que situação seja "rigorosamente irrecuperável". Já Carlos Moedas deixa aviso e fala em "golpe".
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A noite devia ser de festa para o jornalismo português, mas ficou marcada, em todos os discursos, pela solidariedade e grande preocupação para com a situação vivida no setor dos média. À cabeça, fica logo o apelo do Presidente da República para "entendimentos de regime".
"Este é o momento", vinca Marcelo Rebelo de Sousa apontando ao "congresso dos jornalistas, debate político, responsabilidades executivas, mas também parlamentares" para "chegar a entendimentos de regime sobre esta matéria".
"Do que se trata é de encontrar fórmulas. O Canadá tem umas fórmulas, outros países têm outras fórmulas, para, de modo transversal, viabilizar aquilo que é fundamental para a democracia. Foi por isso que eu sempre defendi o financiamento público dos partidos", exemplifica o chefe de Estado, para quem a situação já "não está mal, está muito mal".
Em Lisboa, a falar no Salão Nobre dos Paços do Concelho, Marcelo Rebelo de Sousa insta à ação da sociedade e do poder político porque, ao longo dos tempos, "repetem-se os diagnósticos, a situação piora, vai piorando", até que chega o momento em que é "rigorosamente irrecuperável".
"Dir-se-á que eu estou pessimista... Eu não estou pessimista, mal fora se o Presidente da República é pessimista, estou realista e o realismo impõe que não se demore mais tempo", sublinha.
Marcelo Rebelo de Sousa que ainda aborda a situação do Global Media Group, do qual a TSF faz parte, para dizer que espera que daqui a um ano estes prémios aconteçam "sem estes despedimentos, sem estes não pagamentos dos salários, sem esta indefinição em que ninguém é responsável".
"Não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, morreu solteira a culpa. Às tantas, só falta dizer: 'Responsáveis são os jornalistas, para que quiseram ser jornalistas e escolheram a porta errada?''", ironiza o Presidente da República.
Moedas alerta para "golpe" que fragiliza democracia
Anfitrião da cerimónia, o presidente da Câmara de Lisboa puxou das recordações relativas ao pai, que também foi jornalista, para traçar um paralelo com a situação que vive atualmente o Global Media Group.
"São palavras sentidas de quem viveu em sua casa o que é o seu pai não receber o seu salário ao fim do mês. Penso que nunca o disse publicamente, mas a angústia é tão grande para as famílias que hoje, não só para os jornalistas que aqui estão, mas para as famílias, para essas a minha palavra de solidariedade", vinca Moedas.
Para o social-democrata, o que está a acontecer nas redações é a limitação do espaço, da atividade e da liberdade. "Ao limitar o espaço dos jornalistas, ao limitar a vossa atividade e liberdade, estamos apenas, só e sempre a fragilizar a democracia. E é isso que muitos não percebem e é isso que temos de ter, a nossa obrigação, a obrigação dos políticos que acreditam neste jornalismo livre e independente, sempre, de o dizer todos os dias."
"É um golpe que estamos a viver em jornais de referência, de confiança, para todos nós, os portugueses. Portanto, é um aviso para valorizarmos a vossa profissão, para valorizar a classe jornalística, para dar valor e não precariedade, para dar estabilidade e não imprevisibilidade", alerta Carlos Moedas.