O Instituto Goethe e a embaixada dos Países Baixos em Lisboa assinalam os 80 anos da libertação da Alemanha, com uma sessão especial, esta segunda-feira
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Os pais de Reinout Sloet tot Everloo foram surpreendidos quando estavam em lua-de-mel em Roma, em Maio de 1940. Foi nessa altura que o regime nazi ocupou a Holanda, em plena Segunda Guerra Mundial, e os recém-casados já não puderam regressar a casa. A fuga trouxe-os até Portugal, entrando por Vilar Formoso em direcção a Lisboa, onde o pai de Reinout se tornou funcionário da embaixada holandesa.
Hoje, com 83 anos, Reinout recorda que “o Governo português dizia que os refugiados holandeses tinham de ir todos para a praia das Maçãs”, no concelho de Sintra. Aí tinha sido criado um centro para os acolher, enquanto aguardavam novos destinos longe da Europa. O pai de Reinout “tomava conta daquela gentinha toda”, relata à TSF. Entre outras tarefas, explicava os “hábitos em Portugal” e pedia recato aos holandeses que “iam tomar banho (na praia) de biquíni. Um escândalo!"
Entre os holandeses que passaram pela praia das Maçãs, estava o pai de Loes Gompes. A autora sempre soube que o pai, Simon Gompes, “escapou da Europa, em tempo de guerra, através de Portugal-Lisboa”. Depois de ter passado pelo sul de França e por Espanha, Simon Gompes chegou de comboio à capital portuguesa, tendo sido levado para a praia das Maçãs.
Com a ajuda do tio Michel, irmão de Simon e também ele um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, Loes traçou o percurso do pai e tantos refugiados holandeses com passagem por Portugal. O trabalho deu origem ao livro “De vlucht wordt duur betaal” (“O preço da fuga”), que inspirou a realizadora Anita Mizrahi a produzir o documentário “Lisbon, harbour of freedom” (“Lisboa, porto da liberdade”). As duas obras dão o mote para a sessão especial que vai ter lugar, esta segunda-feira, no Instituto Goethe, em Lisboa, numa parceria com a embaixada dos Países Baixos no nosso país. A data não foi escolhida ao acaso: 5 de Maio marca os 80 anos da libertação holandesa da ocupação alemã.
Entusiasmadas por estarem em Portugal, Loes Gompes e Anita Mizrahi salientam que esta também é a história dos portugueses que “fizeram todos os possíveis para ajudar os refugiados”. Na praia das Maçãs, os judeus holandeses foram “felizes”, pois “tinham comida, vinho, podiam nadar e passear” em liberdade, em contraste com o tempo que passaram no sul de França, onde “tinham fome”. Grata aos portugueses, Loes conclui que “sem os portugueses, teria havido muitas mais tragédias para as famílias judaicas”.
A sessão especial no Instituto Goethe, em Lisboa, tem início às 17h30. No final, haverá uma recepção a convite da embaixada dos Países Baixos em Portugal.
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