Pré-triagem telefónica de grávidas diminui ida às urgências em 28%. FNAM acusa Governo de "propaganda"
Em declarações à TSF, Joana Bordalo e Sá refere que, ao recorrer às linhas telefónicas, Ana Paula Martins está a tentar "mascarar" os problemas do Serviço Nacional de Saúde
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A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, acusa o Governo de propaganda. Segundo os números adiantados ao Expresso por Alberto Caldas Afonso, presidente da comissão criada para estudar a reorganização das urgências obstétricas, a medida do Executivo que obriga as grávidas a ligar para a linha SNS antes de se dirigirem às urgências, na região de Lisboa e Vale do Tejo e Leiria, já permitiu uma redução de 28% das idas aos hospitais desde que foi implementada a 16 de dezembro.
Em declarações à TSF, Joana Bordalo e Sá sublinha que, ao recorrer às linhas telefónicas, o Ministério de Ana Paula Martins está a tentar "mascarar" os problemas do Serviço Nacional de Saúde.
"Olhando para a lógica de que 78% das grávidas acabaram por ser efetivamente encaminhadas para o serviço de urgência, comprova-se aquilo que a Federação Nacional dos Médicos anda a dizer: as linhas telefónicas não substituem de forma alguma a observação das grávidas, das crianças e dos utentes que precisam de um serviço de urgência. Algo que também está a ser mascarado por este Ministério da Saúde de Ana Paula Martins é que as equipas estão extremamente desfalcadas, a trabalhar com um número de médicos claramente insuficiente para dar resposta e por isso é que se socorrem destas linhas telefónicas", explica à TSF Joana Bordalo e Sá.
Para a presidente da FNAM, "deve haver uma negociação que seja célere, competente e que devolva médicos ao Serviço Nacional de Saúde". "Isso não está a ser garantido por este Ministério da Saúde, que manifestamente tem falta de vontade política em resolver a situação e tenta mascarar esta situação através da sua propaganda, lançando percentagens que tentam confundir a população", atira.
Joana Bordalo e Sá antecipa um período de Ano novo com muitos constrangimentos nas urgências, em especial, nos serviços de obstetrícia, ginecologia e pediatria. O semanário Expresso revela ainda que alguns hospitais contrataram prestadores de serviços a quem pagaram mais de 100 euros para garantir que as urgências se mantinham abertas. A presidente da FNAM garante que a medida está longe de resolver o problema da falta de recursos humanos.
"O Ministério da Saúde de Ana Paula Martins, como não consegue resolver a situação de repor os quadros dos hospitais e dos centros de saúde com médicos que são do quadro, também se socorre de prestadores de serviço que não fazem parte dos quadros dos hospitais e trabalham de forma muito episódica. Não é assim que se garantem equipas que estejam completas e motivadas a trabalhar, porque quem trabalha apenas episodicamente e nestas alturas de maior aperto não consegue garantir uma continuidade de serviços com qualidade e de forma a garantir os melhores cuidados à população", acrescenta.
A medida entrou em vigor no dia 16 de dezembro. As grávidas da Região de Lisboa e Vale do Tejo, incluindo o Hospital Distrital de Leiria, têm de ligar para a Linha SNS Grávida antes de recorrerem à urgência hospitalar de Obstetrícia e Ginecologia.
A pré-triagem telefónica deverá ser feita preferencialmente por enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, indica a portaria, acrescentando que os hospitais usarão os mesmos algoritmos da Linha SNS Grávida/Ginecologia na triagem presencial da urgência, que prevalecerá sobre a triagem telefónica.
Os hospitais poderão adicionalmente criar uma pré-triagem telefónica própria, em articulação direta com a linha SNS Grávida/Ginecologia, acrescenta.
Mas há exceções para situações com forte suspeita de poderem representar risco iminente de vida, designadamente a perda de consciência, convulsões, dificuldade respiratória, hemorragia abundante, traumatismo grave ou dores muito intensas.