Preço em máximos históricos. Investigador apela à interrupção das capturas de lampreia em 2025 para recuperação da espécie
Pedro Raposo de Almeida, diretor do MARE, explica escassez de peixe como fatores como a seca e esforço de pesca. No rio Minho o preço das lampreias atingiu em março valor histórico de 100 euros
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O diretor do MARE- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e docente da Universidade de Évora, Pedro Raposo de Almeida, defende a tomada de medidas como restrição da pesca da lampreia em 2025, para permitir a recuperação da espécie.
Numa altura em que o preço deste peixe ciclóstomo atinge o valor histórico de 100 euros da unidade, no caso do rio Minho, devido à escassez, o investigador afirma que a interrupção das capturas já deveria ter ocorrido este ano.
Afirma que a situação é grave, resulta da oscilação dos caudais dos rios causada por períodos de seca e afeta não só Portugal, como Espanha e França. E explica que, no caso deste ano, a pouca quantidade é consequência de 2017 ter sido um ano seco, que interferiu no ciclo de vida (de sete anos) e reprodução das lampreias.
“A escassez de lampreia que se observa neste momento em Portugal resulta essencialmente do que se passou em 2017. Foi um ano de fraca pluviosidade, os rios tinham caudais baixos e nessas circunstâncias, normalmente, esta espécie não entra nos rios (para desovar). Reage negativamente a caudais mais baixos”, explica Pedro Raposo de Almeida, indicando que este é um cenário agravado por outros fatores como o esforço de pesca, utilização de artes de pesca tradicionais com maior capacidade de captura e obstáculos existentes nos rios como os açudes. Além da influência das alterações climáticas.
Face à situação atual e para impedir que se repitam ciclos de escassez, o investigador afirma: “Na minha opinião, o próximo ano, é um ano em que devemos começar aqui a fazer um esforço a nível nacional de redução do esforço de pesca da lampreia e simultaneamente recuperação do habitat, com eliminação de barreiras que são, neste momento, obsoletas, açudes que não fazem sentido estar nos rios, como é o caso do Louredo, no rio Mondego".
Indica ainda como outra medida necessária, “a construção de passagens para peixes que permitam aumentar a área de habitat”. “Esta é a única forma que nós temos de resolvermos a situação”, garante.
No Minho, pescadores e intermediários do mercado da lampreia, afirmam que este ano vai ficar para a história como um dos mais fracos de lampreia e em que o preço atingiu valores mais altos. Carlos Silva, pescador com 70 anos de idade e que responde pela alcunha “Cuco”, comenta: “Nunca a gente sonhou que a lampreia chegava a 100 euros [preço pago pelos intermediários], mas é como tudo. Não há. Não vê o azeite, que estava a 2 ou 3 euros e agora está a 11 ou 12? Porquê? Falha. E quando começa a falhar os preços sobem”.
Eduardo Ribeiro, intermediário no mercado da lampreia há mais de 30 anos, afirma:
“Ano como este não vi nenhum. Está complicado. Não há lampreias. É uma, duas…E a procura continua. Basta dizer que não há para as pessoas procurarem mais. É como o fruto proibido”.
No cais de Caminha, onde espera pela chegada dos barcos, o comerciante paga 100 euros por lampreia ao pescador. O pouco peixe que vem à rede, destina-se quem está disposto a pagar o que for para se deliciar à mesa. “Preço? Olhe, quem pode comer, come. Há pessoas que dizem: arranja-me uma [lampreia] que o preço não interessa”, comentou.
A época abriu no início de janeiro e decorre até meio de abril.
Março, que costuma ser o mês forte da faina, tem sido o pior de todos os tempos.
Rui Castro, presidente da Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e Mar, considera que “não há explicação plausível” para a situação, mas mostra-se esperançoso quanto a fainas futuras. “Vê-se muita criação. É uma coisa impressionante. Criação é lampreia bebé, pequena ainda. Se calhar nos próximos quatro ou cinco anos vamos ter muita lampreia”, conclui.
