Preços a baixar e aviões que não vêm cheios. Turismo do Algarve revê em baixa expectativas para o verão
Hoteleiros culpam inflação e taxas de juro da habitação como principais causas para um mês de julho fraco.
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No Algarve, o mês de julho não está a ser o que hotéis, restaurantes e comércio esperavam. As expectativas apontavam para um crescimento do setor que poderia ultrapassar o que se verificou em 2019, o melhor ano turístico de que há memória. O aumento do custo de vida, a inflação e o aumento das taxas de juro para quem tem crédito à habitação, trocaram as voltas a quem vive do turismo.
Helena Damas e o marido são disso exemplo. Andam a passear pela baixa de Albufeira e vieram para um Alojamento Local (AL) por um período menor do que é costume, apenas quatro noites. E garantem que é apenas porque o filho, o pequeno Santiago, pediu muito.
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"Os preços estão exorbitantes", queixa-se Helena. "Em agosto vamos para Porto Santo e fica-nos mais barata a viagem, com voos e tudo, do que vir para o Algarve", compara, "e estou a ver muito menos turismo este ano".
Os preços estão demasiado altos para o bolso dos portugueses e notam-se menos nacionais nas ruas, mas também menos espanhóis. Uma comerciante de Albufeira, que vende produtos regionais, admite que os meses anteriores foram bem melhores.
"Fizemos uma caixa muito melhor", garante. Queixa-se de que o turismo que existe na cidade "é só grupos de jovens, ingleses, alemães ou holandeses, não os consigo distinguir", afirma. "É só para fazer desacatos: bebem e, a partir das 17h00 então, é escusado", lamenta.
Num restaurante da mesma cidade, Albufeira, o chefe de sala também é da opinião de que abril e maio foram meses em que fizeram mais negócio. "Agora em julho, há uns dias bons e outros nem por isso", afirma Gabriel, que constata que os portugueses gostam de boa comida e de consumir.
Já os estrangeiros "é só pizzas e batatas fritas com ketchup, é mais do mesmo".
Para o setor hoteleiro e restauração, a expectativa recai sobre o mês de agosto, que está quase a começar. "Esperamos sempre que o dia seguinte seja melhor", atira. Mas, ainda sem números oficiais, o setor do turismo já revê em baixa as previsões que tinha feito para este verão.
Hoteleiros baixam preços e afirmam que aviões não vêm cheios
O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) admite que vão sair goradas as expectativas para o verão de 2023. Helder Martins imputa culpas à inflação e à subida das taxas de juro à habitação, mas admite que já há hoteleiros a baixarem os preços.
Alguns "estão a fazer campanhas com redução de preços, e há outros que preferem ficar com algumas unidades vazias, melhorar o serviço e não ter tanta pressão", adianta.
Considera que a culpa "não se pode pôr nos hoteleiros porque eles aumentaram os preços, porque tudo o que os hoteleiros compram para produzir um produto turístico aumentou", desculpa-se. É também assim na restauração, "e se queremos dar um Algarve de qualidade, o preço tem que ser condizente com isso".
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O presidente da AHETA acrescenta que esta baixa no turismo coincide com a falta de poder das famílias. "Mesmo quem não tem empréstimos [para compra de casa] tem hoje um conjunto de custos muito mais alto", afirma. Na sua opinião, "esta responsabilidade deve ser partilhada".
"O Governo tem no turismo a galinha dos ovos de ouro, se não fosse o turismo, a economia não estaria a recuperar como está, tem de olhar para isto de outra maneira", aponta perentório. De acordo com o dirigente da AHETA, o executivo não pode ver o setor apenas como um manancial de receitas, mas deve também colocar-se ao lado dos empresários e das famílias, baixando a carga fiscal.
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Helder Martins constata que noutros países também se verifica a falta de poder de compra.
As companhias de aviação low cost venderam os bilhetes, mas na hora dos passageiros embarcarem, há aviões que têm 5 a 10% dos lugares vazios. "As pessoas preferem perder o dinheiro do bilhete porque não têm para o resto, para a gastronomia e hotelaria", adianta.
O único sinal positivo para o representante dos hoteleiros é que se uma das críticas que se faziam ao Algarve era a de que "tinha filas para tudo, agora já não há filas e quem pode está a usufruir melhor".