O presépio dos Bombeiros Sapadores de Braga é original. Quem passa na Avenida do Estádio pode ficar sem palavras, surpreendido ou chocado. O aparato faz virar cabeças. Os bombeiros admitem que não é consensual, mas o objetivo é mesmo chamar a atenção para o flagelo dos acidentes de viação.
Corpo do artigo
Criar presépios não é novidade para Armando Rosas. Natural de uma das freguesias mais tradicionais, no centro da cidade de Braga, sempre pôs as mãos à obra na época de Natal, em prol da comunidade. Este ano, no quartel onde é bombeiro, foi dele a ideia de recriar um acidente de viação.
"É um acidente que envolve três veículos, em que os condutores são as principais figuras do presépio, São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus, que cometem algumas irregularidades. Nenhum deles levava cinto de segurança, o bebé viajava sem cadeirinha... e depois há um choque frontal, em que todos eles são projetados. O terceiro veículo é de um condutor alcoolizado que fugiu". Armando Rosas relata o cenário que ele próprio criou como se de um acidente real se tratasse.
TSF\audio\2018\12\noticias\07\sonia_presepiobraga
Os adereços têm origens diversas. "Os carros vieram de uma sucata e são mesmo sinistrados. Os manequins, nós tivemos de comprar há já alguns anos. Nas roupas tentámos ser fiéis. Vestimos o São José de castanho, a Nossa Senhora de azul...". E o lenço cor de salmão que traz na cabeça? "Também temos que dar um ar moderno à coisa", atira o bombeiro municipal de Braga. Quanto aos vestígios de sangue nos corpos dos manequins, diz que "é para criar impacto".
O presépio, que foi inaugurado a 1 de dezembro, pode ser classificado de original, chocante, impactante, dramático. Os Bombeiros Sapadores de Braga já ouviram todo o tipo de comentários. João Felgueiras, comandante da corporação diz que o choque é propositado e explica porquê, "os acidentes rodoviários são um das principais causas de morte em Portugal. Não faz sentido. Não faz sentido andar na estrada como se fosse uma competição. Nesta altura foi mesmo dar uma imagem que chocasse e fizesse refletir".
Entre elogios e reparos, João Felgueiras diz que não há, neste presépio, vontade de ferir a crença católica. "É um presépio fora do normal, sim... ", mas até agora não houve qualquer reclamação da Igreja. Com o pároco de Dume a seu lado acrescenta "não sei qual é a opinião dele, mas decerto reconhecerá que não estamos de maneira nenhuma a ferir suscetibilidades".
Hermenegildo Faria reconhece, sem levantar ondas de choque, uma vez que considera que "o que choca são os acidentes na estrada. O presépio é uma representação interessante. Não é nada chocante. Acho muito bem. Só vejo bem". À paróquia da freguesia de Dume, à qual pertence o quartel dos bombeiros, não chegaram queixas nem reclamações. Nem acho que isso vá acontecer, atira.
Francisco Silva é presidente da União de Freguesias de Real, Dume, e Semelhe. O autarca não é voz discordante no cenário, porque, como sublinha, os acidentes de viação são um flagelo que tem de ser combatido. "Braga é uma dos distritos do país com mais acidente de viação. Este presépio tem uma vertente pedagógica muito importante".
Durante duas semanas, em novembro, os bombeiros aproveitaram folgas e pausas para construir o presépio. João Amorim contribuiu para o trabalho de equipa, pautado por algumas hesitações. No final, o resultado correspondeu às expectativas.
"É dramático? É. Tem impacto. Mesmo nós, quando estávamos a construir o presépio ficamos a olhar uns para os outros... Isto se calhar é dramático de mais. Se calhar pisámos o risco. Tivemos esse receio, mas depois começamos a receber elogios... Há sempre pessoas contra, mas os mais novos, com outra mentalidade, compreendem bem a mensagem que queremos transmitir".
Nada como conferir com Rui Monteiro e Fátima Peixoto. Os dois descem a avenida com um grupo de amigos. Param em frente ao presépio e não têm nada a apontar. Aquilo que vêm é "divertido e engraçado" e sobretudo tem uma mensagem "muito importante".
A tradição de fazer um presépio é antiga no quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga... No ano passado, depois dos grandes incêndios, o cenário era uma cabana de cinzas...