A ministra da Cultura também recorda Maria Velho da Costa como uma "mulher corajosa e escritora inovadora".
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O Presidente da República lamentou a morte da escritora Maria Velho da Costa, no sábado, aos 81 anos, que recordou como a autora de uma "obra invulgar e memorável" que marcou o seu tempo.
Num comunicado publicado na página de internet da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa prestou "homenagem a uma obra invulgar e memorável", apresentando condolências à família de Maria Velho da Costa, que morreu de forma súbita em casa, em Lisboa.
"Maria Velho da Costa marcou, a vários títulos, o seu tempo, o nosso tempo", disse o Presidente, enaltecendo o seu papel no antigo regime, quando sofreu a perseguição judicial e política às "Novas Cartas Portuguesas", de que foi coautora, um caso que desencadeou um movimento intelectual de solidariedade em vários países ocidentais.
À época, a escritora já tinha publicado o romance "Maina Mendes", a que se seguiriam "Casas Pardas", "Lucialima", "Missa in Albis" e "Myra", obra romanesca notável que lhe valeu diversas distinções, entre os quais o Prémio Camões, bem como os elogios da crítica e a admiração dos pares.
"Poucos ficcionistas portugueses contemporâneos escreveram livros tão cultos e inventivos, tão exigentes e insubmissos. Maria Velho da Costa era uma ficcionista com aguda consciência de não-ficção, da poesia, do cinema", considerou o Presidente, destacando a autora como uma escritora "muito atenta à dominação das mulheres e a outros mecanismos ancestrais", e de "grande consciência ideológica e crítica".
Marcelo destacou ainda o trabalho de Maria Velho da Costa como professora em Portugal, e mais tarde no Reino Unido, e as funções públicas na Secretaria de Estado da Cultura, na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e no Instituto Camões.
Ministra da Cultura recorda "mulher corajosa e escritora inovadora"
Maria Velho da Costa, que morreu no sábado aos 81 anos, foi "uma mulher corajosa e uma escritora inovadora e brilhante", com uma obra à qual os leitores devem regressar, afirmou hoje a ministra da Cultura, Graça Fonseca.
"Recordá-la nos seus gestos de desafio e regressar constantemente aos seus livros, eis o que devemos a Maria Velho da Costa", lê-se na nota de pesar da ministra da Cultura, divulgada hoje.
Considerada uma das vozes renovadoras da literatura portuguesa desde a década de 1960, autora de "Maina Mendes" (1969), "Casas Pardas" (1977) e "Myra" (2008), entre outros, Maria Velho da Costa foi amplamente distinguida, tendo recebido em 2002 o Prémio Camões.
Maria Velho da Costa foi ainda uma das coautoras, juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, de "Novas Cartas Portuguesas" (1972), uma obra literária que denunciava a repressão e a censura do regime do Estado Novo, que exaltava a condição feminina e a liberdade de valores para as mulheres, e que valeu às três autoras um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.
Graça Fonseca considera esta obra um "momento fundamental do feminismo em Portugal".
"Regressar a uma obra faz parte do nosso património literário, principalmente quando nos soube mostrar o país que teimávamos em não ver", sublinhou a ministra da Cultura.