Primeira casa abrigo para vítimas de violência doméstica com doença mental já recebeu 20 pessoas
Quando a violência doméstica está associada à doença mental tudo se torna "mais complexo". Mas há uma instituição que se dedica a ajudar.
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A primeira casa abrigo do país destinada a vítimas de violência doméstica com doença mental abriu portas há um ano em Viseu. Pelo espaço já passaram 16 mulheres, algumas levaram consigo os filhos. A casa já serviu de teto a quatro crianças.
"Estas pessoas vêm encaminhadas de todo o país, de diversos distritos. Foram encaminhadas na grande maioria por centros de acolhimento de emergência, que é a resposta de primeira linha em situações de risco", explica Carla Andrade, diretora técnica desta resposta social única no país.
Segundo esta responsável, para darem entrada na casa abrigo as vítimas primeiro têm que ser alvo de exaustivo diagnóstico médico. O historial de violência por que passaram também é passado a pente fino.
Entre as 16 mulheres atendidas, a maioria permaneceu na valência 73 dias, recebendo toda a ajuda psicológica, social e até ao nível de formação para entrar no mercado do trabalho para poderem voltar ao seu dia a dia. Há um caso de uma pessoa que permaneceu na instituição 284 dias. A que saiu mais depressa permaneceu apenas 24 horas.
"Foi apenas uma situação em que teve apenas um dia porque estas pessoas independentemente de terem doença mental ou não têm todas uma grande ambivalência e quando entrou na instituição talvez por não se ter adaptado ou ter ainda alguma dependência emocional do agressor no dia seguinte decidiu regressar ao local de origem", adianta Carla Andrade.
Algumas das primeiras utentes abandonaram a casa abrigo há relativamente pouco tempo. Duas das mulheres apoiadas decidiram refazer a sua vida em Viseu. Seis optaram por regressar à terra natal.
"Conseguiram-se reunir condições para regressarem para o meio de origem porque entretanto já existiram medidas judiciais eficazes e capazes de as proteger. Foram também reintegradas com a ajuda, a partir daqui, da rede social local e com o apoio da rede alargada foi possível atomizar essas pessoas", detalha.
O processo de regresso à chamada vida normal é muitas vezes complicado. Na opinião de Carla Andrade, "se já não é fácil" a autonomização para "as pessoas que não têm doença mental", com estas vítimas tudo se torna "mais complexo".
"Têm períodos em que descompensam, há uma maior dificuldade na estabilidade emocional destas pessoas", refere.
Com espaço para dez pessoas, atualmente a valência está a ser ocupada por três mulheres. A localização desta resposta social não é conhecida por razões de segurança e também por isso é difícil chegar à fala com quem arranjou refúgio em Viseu.
A diretora técnica da casa abrigo defende ainda o país não precisa de mais respostas deste género, mas necessita que o Estado reforce as ajudas a estas pessoas que não conseguem viver sozinhas.
O espaço, pioneiro no país, e que abriu portas há precisamente um ano em Viseu, foi criado com o objetivo de ajudar as vítimas a construírem um novo projeto de vida.
O projeto é gerido Casa do Povo de Abraveses, com o apoio do Centro Hospitalar Tondela Viseu e da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade.
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