A necessidade do transplante ocorre em pessoas com grave risco de perda de visão ou já cegas por opacidade da córnea.
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O Hospital de Santo António, no Porto, tem, a partir desta sexta-feira, o primeiro Banco de Córneas de cultura em Portugal, o que vai permitir duplicar o número de doentes transplantados. Atualmente existe escassez de tecidos, doentes em lista de espera e Portugal é obrigado a importar córneas.
Pedro Menéres, diretor do serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Santo António, explica que com este banco a conservação das córneas deixa de ser feita exclusivamente por refrigeração e passa a funcionar em meio de cultura, o que traz muitas vantagens. "Esta tecnologia de cultura vai permitir uma preservação com utilização de córneas até mais de um mês depois da colheita, o que na conservação de bancos de cultura clássicos não era possível. Tínhamos uma conservação de córneas até ao máximo de 14 dias e também com limitações a nível de critérios de seleção de dadores, onde se pode obter as córneas para transplante. Portanto, questões relacionadas com determinada idade, com sépsis, fruto de haver alguma perda celular na conservação a frio não permitiam tantos transplantes como vai ser possível fazer a partir de agora. Com estas córneas de cultura vai ser possível ampliar quer a colheita, consequentemente o processamento e depois a transplantação, o que significa aumentar o número de córneas disponíveis para transplante. Atualmente Portugal é importador destes tecidos."
A necessidade do transplante ocorre em pessoas com grave risco de perda de visão ou já cegas por opacidade da córnea. Com o transplante recuperam a visão.
Pedro Menéres explica que a colheita de córneas é feita a dadores cadáveres e com a conservação em meio de cultura as possibilidades de sucesso são muito maiores. "Continuam a ser colhidas em pós-morte, a córnea é um tecido muito bom para transplantação, porque não é vascularizado. Colhemos 150 a 200 córneas por ano no centro hospitalar universitário de Santo António, mas temos uma lista de espera com mais dois anos. Portanto, a maior disponibilidade de tecidos vai permitir responder em termos clínicos mais adequados a pessoas que estão à espera de transplante de córnea."
O Hospital de Santo António foi pioneiro, fez o primeiro transplante de córnea em 1958 e desde 1980 que tem um Banco de Olhos. Nos últimos 20 anos realizaram mais de 4700 cirurgias. A partir desta sexta-feira tem o primeiro Banco de Córneas em Portugal, a cerimónia de apresentação vai contar com a presença do ministro da Saúde, Manuel Pizarro.