Autocarro elétrico começa a circular até ao final do ano. Especialista em mobilidade urbana, Paula Teles, defende retirada do trânsito da histórica ponte que une as duas cidades
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Os municípios de Valença e Tui (Galiza) deverão avançar ainda este ano com um circuito de transporte público único na Península Ibérica.
Um autocarro elétrico ligará as zonas urbanas das duas cidades, através da ponte centenária sobre o rio Minho. O projeto-piloto foi apresentado na quarta-feira, no âmbito da semana europeia da mobilidade, e deverá arrancar até dezembro, segundo as autarquias das duas localidades. A intenção é que o serviço seja concessionado a um operador ainda no primeiro semestre de 2025. Um dos objetivos é reduzir a circulação automóvel na histórica ponte metálica.
A especialista em mobilidade urbana e acessibilidades, Paula Teles, que desenvolveu um estudo de mobilidade transfronteiriça para aquele território de fronteira, garante que este será “o primeiro transporte desta natureza na Península Ibérica”.
“Vai ser o primeiro projeto ibérico transfronteiriço. Em Portugal há esse transporte em Chaves-Verín, mas só funciona em dias de feira e em alguns eventos”, destacou a especialista, referindo que, a nível europeu, existem três projetos idênticos que ligam as fronteiras Suécia-Finlândia, Itália-Eslovénia e Polónia-Alemanha.
Em Valença e Tui, que formam uma Eurocidade desde 2012, será criada uma linha circular única, com dez quilómetros de extensão e 12 paragens, que funcionará de meia em meia hora, sete dias por semana, entre as 08h00 e as 20h30 (09h00/21h30, hora espanhola).
O transporte público circulará entre as zonas históricas, com paragens em locais como estação de comboios, terminais rodoviários, zonas comerciais, serviços e equipamentos públicos como escolas e piscina.
Paula Teles defendeu que o projeto “tem pernas para a andar”, por um lado porque “há financiamento da Europa” e, por outro, porque naquela fronteira os índices de mobilidade são elevados, com “cerca de 4100 automóveis a atravessar todos os dias a ponte centenária e 15.500 a designada “ponte nova”, situada a jusante. Destes, cerca de “1300 têm como origem ou destino, Valença”, pelo que, vê potencial na futura conexão em autocarro elétrico.
“Temos aqui uma grande oportunidade para o transporte público sustentável”, considerou, defendendo como objetivos da iniciativa, a redução do trânsito automóvel na ponte, além da devolução de espaço público às populações locais e do incremento de hábitos de caminhar.
“Acresce que temos uma enorme oportunidade, que é aprendermos paulatinamente a preservar mais a ponte internacional. Esse é o meu grande sonho. Retirar [dali o] trânsito”, declarou a especialista, indicando que os padrões de mobilidade na fronteira são de utilização intensiva de automóvel [69,1 por cento em Tui e 74,4 por cento em Valença]. E a maioria dessas deslocações internas são “de apenas três quilómetros”. Pelo que, cabe ao autocarro elétrico também a missão de substituir a utilização o automóvel.
“O projeto-piloto começa em dezembro e ao final dos três meses vamos avaliar se se deve manter este transporte urbano entre as duas cidades. A nossa vontade é que ele fique”, disse José Manuel Carpinteira, presidente da câmara de Valença, que encomendou o estudo de mobilidade urbana transfronteiriça.
À autarquia de Tui, caberá lançar o concurso público para exploração do circuito.
“É um projeto-piloto para melhorar a mobilidade neste espaço transfronteiriço que é o mais transitado na Península Ibérica. E também para que transitem menos veículos na ponte histórica”, comentou, Enrique González, o alcaide galego.
