Ouvido no Parlamento sobre a privatização da TAP, o ministro das Infraestruturas, garantiu que "o processo ainda não iniciou". Pedro Nuno Santos rejeitou qualquer "cambalhota" ou "desnorte": "Nunca foi objetivo uma TAP 100% pública."
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O ministro Pedro Nuno Santos revelou que depois de suspeitas da administração de que a TAP estaria a pagar verbas a mais pela compra de aviões novos foi feita uma auditoria que seguiu, entretanto, para o Ministério Público.
"A administração, a determinada altura, suspeitou que nós estaríamos a pagar pelos aviões que foram encomendados pelo anterior acionista mais do que os nossos concorrentes pagavam. E a administração da TAP, no seguimento dessa suspeita de que estaríamos a gastar mais pelos mesmos aviões que os nossos concorrentes, pediu uma auditoria," explicou o ministro revelando que a auditoria "foi entregue ao governo e nós, perante as dúvidas e sobre as conclusões daquela auditoria, encaminhamos aquela auditoria para o Ministério Público."
O negócio em causa estará relacionado com a renovação da frota feita pelo anterior acionista David Neeleman.
Na audição, o ministro das Infraestruturas atacou o PSD por não revelar o que teria feito em relação à TAP.
"O que não explicam é se houve uma capitalização ou um endividamento maior. Os Srs. sim, fizeram uma gestão desastrosa. Venderam a TAP por 10 milhões e comprometeram-se com a dívida a banca. E aparentemente a pagar mais pelos aviões do que os nossos concorrentes. Se estamos a gerir mal, tenham coragem e dizer o que fariam de diferente."
O ministro das Infraestruturas considerou ainda que a decisão do Governo foi sufragada nas eleições legislativas que deram a maioria ao PS.
"Quando fomos a eleições, a TAP já tinha sido intervencionada. Fomos eleições e ganhamos no país e no distrito de Aveiro. O antigo líder do PSD tentou aproveitar a TAP na campanha. E para quê?"
"O objetivo nunca foi ter uma TAP pública a 100% nunca,", repetiu Pedro Nuno Santos que acusou o PSD liderado por Luís Montenegro de "não fazer bem o trabalho, ou então sabem bem o que foi sendo dito mas conscientemente estão a querer enganar e a furtar-se e continuam a furtar-se a dizer o que é que teriam feito."
Pedro Nuno Santos rejeitou que tenha havido "desnorte ou cambalhota," na afirmação de que a TAP deverá ser privatizada durante o próximo ano.
O ministro garantiu ainda que "há muitas formas" de garantir o papel estratégico da TAP.
"Sem sequer falar na percentagem, há muitas maneiras de garantir que a TAP continua a ter as cores da bandeira nacional, que o hub fica em Lisboa, que os impostos são pagos cá. Há um conjunto de matérias que podem ser garantidas numa negociação com um terceiro," sublinhou Pedro Nuno Santos.
Apesar de muito questionado pelos deputados, o ministro explicou que não pode dar detalhes como a percentagem a alienar, porque o processo ainda não arrancou: "Não tenho nada vos dizer sobre um processo que não se iniciou," garantiu.
"A privatização ainda não começou, nem deve começar", afirmou a deputada comunista Paula Santos considerando que o país precisa da TAP "por uma questão de soberania."
Durante o debate, o PSD criticou forma "leviana e dissimulada" como o atual executivo tem gerido a questão da TAP, ironizando que "quando acaba o dinheiro, acaba o socialismo."
Por parte do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua considerou que tanto o Governo do PS, como o PSD tratam o tema com "muita forma e pouca substância" e questionou o ministro sobre o fim dos cortes salariais.
Na resposta, Pedro Nuno Santos sublinhou que embora a empresa tenha "resultados operacionais positivos" ainda dá prejuízos: "repor os cortes é aumentar o prejuízo," disse.
O Chega desafiou Pedro Nuno Santos: "afronte o primeiro-ministro e não deixe privatizar a TAP. O senhor não quer privatizar a TAP," disse o deputado Filipe Melo.
Já Carlos Guimarães Pinto da Iniciativa Liberal visou tanto o PS como o PSD. Ao social-democratas que criticam a injeção de 3,2 mil milhões de euros, atirou que para "serem coerentes têm de dizer aquilo que sempre dissemos. Qual a consequência de não injetar?" Para o atual Governo, ficou a crítica de não ter clarificado que o objetivo era integrar a TAP num grande grupo de aviação.
Pedro Nuno Santos admitiu que, em dezembro de 2021, não fez referência à privatização porque "estávamos a iniciar a reestruturação e nenhuma companhia aérea podia sequer fazer aquisições."