Governo garante que investe nos comboios. Engenheiros dizem que não chega e temem tragédias
O estado da ferrovia é, na opinião do secretário de Estado das Infraestruturas, um reflexo de décadas de desinvestimento.
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O Governo reconhece que 2018 não foi um bom ano para os comboios, mas o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d'Oliveira Martins, sublinhou, durante o Fórum da TSF, que - apesar de compreender as queixas que têm sido feitas pelos utentes - as questões são pontuais e o Governo está a tentar resolvê-las.
"Há situações pontuais associadas ao material circulante que estão reconhecidas. De facto, 2018 não foi um ano bom para a manutenção do material circulante. No início do ano tivemos greves, tivemos a necessidade de recrutamento. O recrutamento de funcionários e técnicos para a manutenção de material circulante também demora o seu tempo. É um trabalho altamente especializado. Estas supressões refletem esta falta de manutenção, de reforço no recrutamento, este desinvestimento do passado, mas o que é facto é que estamos a recuperar para acabar com estas situações que, para o governo, são meramente temporárias."
Os problemas nos comboios são reflexo de décadas de desinvestimento, na opinião do secretário de Estado que lembra que o governo está a lançar obras na modernização da rede ferroviária: um investimento para recuperar o tempo perdido.
"Mais de metade da rede está a ser intervencionada, o que inclui os principais eixos. O investimento das Infraestruturas de Portugal cresceu 80% no segundo trimestre de 2018 face ao mesmo período de 2017. O Governo está a fazer aquilo que já devia ter sido feito há muitos anos. Há atrasos no planeamento? Há atrasos na execução da obra? O que interessa é passar esta mensagem: a obra está a ser feita."
Ouvido também no Fórum TSF, o bastonário da Ordem dos Engenheiros confessa que tem dúvidas sobre o investimento que está a ser feito pelo governo.
Carlos Mineiro Aires entende que os problemas se traduzem num maior risco para os comboios e as linhas ferroviárias. O bastonário apela mesmo a uma maior vigilância, para se evitar uma tragédia como a que aconteceu em Borba.
"A conjugação de uma ferrovia em mau estado, com material circulante em mau estado, pode convergir para uma situação de risco e é obrigatório que as entidades competentes façam essa vigilância antecipadamente para não estar sempre a chorar sobre o leite derramado como aconteceu recentemente em Borba. Infelizmente, o nosso país está como está. Eu acho que andamos aqui a enganar um pouco a opinião pública, com algumas afirmações, porque isto não vai ter uma solução imediata e não vai ser uma solução a curto prazo, porque o problema e um problema acumulado e chegámos a uma situação terrível."