Previsões menos otimistas com base no metido do pólen apontavam para 262 mil pipas na vindima deste ano, mas a falta de chuva e as temperaturas elevadas tornam esta fasquia uma miragem.
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A Associação de Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) previu uma produção de vinho entre 262 mil a 287 mil pipas para a vindima deste ano, na Região Demarcada do Douro. No entanto, "já não se vai atingir o intervalo mínimo", lamenta a diretora-geral, Rosa Amador. A culpa é da seca e do calor.
O ano já estava a ser considerado muito seco quando se deu o pico da floração das videiras, na segunda quinzena de maio. Apesar disso foi um processo rápido e sem problemas de doenças ou pragas. Os viticultores falavam numa "boa nascença".
Só que de junho para cá a situação agravou-se. Continuou a não chover ou a chover muito pouco para as necessidades e as temperaturas foram sempre mais elevadas do que o normal para a época. Chegados a esta semana de julho, verifica-se um calor excessivo a que acaba por derrotar as videiras, plantas que são, normalmente, muito resilientes.
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De acordo com Rosa Amador, as consequências do stresse hídrico sofrido pela videira são "o desavinho, menos expansão da ramagem e bagos mais pequenos". Ora, com menos bagos e com os existentes mais pequenos, menos vinho vai haver. Daí que as 262 mil pipas (550 litros cada uma) que eram o intervalo mínimo da previsão feita pela ADVID com base no pólen, está já fora de hipótese.
Rosa Amador sublinha que "é muito difícil prever qual vai ser a quebra". Tudo vai depender do impacto da meteorologia nas próximas semanas. E tudo aponta para que o calor que se sente esta semana já vá ter "efeitos de escaldão nas uvas". O povo costuma dizer deste fenómeno que "os bagos cozem".
Claro que, até à vindima, a partir de finais de agosto, tudo pode acontecer, mas dificilmente vai melhorar um ano que já é considerado mau e que vai ficar muito aquém das 264 mil pipas declaradas em 2021 na Região Demarcada do Douro, onde se produz o vinho do Porto.
Nas vinhas regadas a situação não é tão catastrófica, mas não deixa de ser grave. A diretora-geral da ADVID nota que "as condições são bastante adversas, ainda que não sejam tão dramáticas". É que "nem mesmo a rega está a conseguir fazer face à seca". Se as condições de secura e as temperaturas altas se mantiverem, "já nem é só a maturação que se coloca em causa, é mesmo a viabilidade da planta".