Produtores de leite "apreensivos" com redução de cinco cêntimos no preço pago ao produtor
Em declarações à TSF, o secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal defende que as ajudas prometidas pelo Governo vão ser insuficientes face à margem de redução.
Corpo do artigo
Os produtores de leite afirmaram esta quarta-feira estarem "muito apreensivos" com a redução anunciada de cinco cêntimos, a partir de segunda-feira, no preço pago ao produtor pelas cooperativas associadas da Lactogal e pela Parmalat Portugal.
O Governo está a ser pressionado pelos produtores de leite por causa dos apoios prometidos que ainda não chegaram. Além do IVA zero no preço do leite, os produtores acrescentam que foram informados que a partir de 1 de maio vai haver uma redução de 5 cêntimos no preço por litro ao produtor.
"Na semana em que se tornou efetivo o 'IVA zero' e algumas marcas e superfícies comerciais anunciaram que 'baixaram os preços mais do que o IVA', os produtores de leite que fornecem as cooperativas associadas da Lactogal, bem como outras indústrias, nomeadamente a Parmalat Portugal, foram informados sobre a redução de cinco cêntimos no preço por litro de leite ao produtor a partir de 1 de maio", avança a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) em comunicado.
Em declarações à TSF, o secretário-geral da Aprolep, Carlos Neves afirmou que tem receio que tudo somado venha a ser um problema para os produtores.
TSF\audio\2023\04\noticias\26\carlos_neves_1_apreensivos
"Estamos muito apreensivos. Depende de como vão evoluir os custos de produção e depende também como vai evoluir o comportamento da indústria. Porque quando nos pagarem os apoios, eles vão representar 1 cêntimo e o que nos descem são 5 cêntimos por litro de leite já a partir de 1 de maio", disse Carlos Neves.
Tendo em conta estas margens de redução, Carlos Neves assegura que as ajudas que vão receber serão, assim, insuficientes.
"Seguramente que [as ajudas] não vão ser [suficientes]. A redução é muito superior, a redução que já foi anunciada e as ameaças que ficam. Preocupa-nos quando o comprador de referência baixam o preço, todos os outros, queijeiros, privadas, digamos assim, não sentem obrigação moral ou negocial de pagarem mais", defende.
Para a associação, "mais uma vez" os produtores estão a ser "obrigados a 'pagar' já as promoções, sem que até ao momento saibam quando é que vão receber as ajudas prometidas.
TSF\audio\2023\04\noticias\26\carlos_neves_2_pagamento_vai_demorar
"Não temos informação de quando vão ser pagos. Vimos notícias e vimos declarações do Governo que seria pago alguma coisa ainda no mês de maio, mas é residual. A maior parte das ajudas estão dependentes de uma autorização de Bruxelas, e essa autorização só foi pedida agora, estas semanas, ainda este mês. Isto foi anunciado, mas ainda nem sequer tinham pedido autorização a Bruxelas para pagar essa ajuda, portanto isto vai demorar muitos meses", alertou à TSF o secretário-geral da Aprolep.
Segundo Carlos Neves, em declarações à Lusa, em 2022, e por diversas ocasiões, os produtores do setor cooperativo "foram os últimos a ver o preço atualizado", tendo ficado "a receber menos do que os produtores que fornecem empresas privadas".
Neste contexto, os produtores "tinham a expectativa que a maior empresa de laticínios em Portugal [Lactogal], que pertence às cooperativas, tivesse agora vontade e capacidade para liderar pelo exemplo e aguentar o preço, de modo a corrigir as injustiças dos últimos meses e anos".
O dirigente associativo nota que, comprando as cooperativas associadas da Lactogal 70% do leite em Portugal, o preço pago por este grupo "é o valor de referência utilizado por todos os compradores", porque "as empresas privadas não sentem a obrigação de pagar mais do que paga a cooperativa que é dos agricultores".
Segundo Carlos Neves, esta descida do preço pago ao produtor ocorre "na altura de maior despesa" dos agricultores com as colheitas das forragens de inverno e sementeiras do milho, juntando-se aos "elevados custos das rações as despesas com combustíveis, adubos, sementes e fitofármacos".
"Estamos muito preocupados. Estamos a ter menos produção de forragens e a palha, vinda de Espanha, que precisamos de comprar tanto para as camas dos animais, como para os alimentar está a subir o preço todos os dias porque há uma grande seca em Espanha", salienta.
"A alternativa, que seria comprar forragem vinda de Espanha, está a subir o preço e, por isso, estamos preocupados com esta situação", acrescenta.
Neste contexto, a Aprolep sustenta que, "sem produção suficiente e sem dinheiro suficiente para comprar alimentos para os animais, os produtores serão obrigados a enviar animais para abate, reduzindo ou encerrando a sua produção", e avisa que tal "poderá levar à falta de leite para abastecer a indústria nacional a breve prazo".
"Não é assim que se defende a produção nacional", remata a associação.