"Promove-se a cultura da esmola." Portugal tem 10.º salário médio mais baixo da UE
Manuel Carvalho da Silva disse no Fórum TSF que o país precisa de "organizações sindicais com força, respeitadas e responsabilizadas"
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Portugal é o décimo país da União Europeia com o salário médio mais baixo, de acordo com os dados divulgados pelo Eurostat esta segunda-feira, e o coordenador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social avisa que "os portugueses estão convidados a ir cedendo direitos sociais".
"Não estamos condenados, mas estamos a condenar-nos", começou por dizer Manuel Carvalho da Silva no Fórum TSF. "Em Portugal temos esta brecha de se arrastar uma política que desvaloriza o trabalho, os sindicatos. Nós precisávamos de organizações sindicais com força, respeitadas e responsabilizadas", referiu, pedindo que esses sindicatos tivessem um papel "representação com responsabilidade".
Ao mesmo tempo, o coordenador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social considera necessárias "organizações empresariais representativas, respeitadas e valorizadas".
"A nossa condescendência com a pobreza é um drama e daí decorre que se desvalorizam políticas sociais, os direitos sociais e promove-se a cultura da esmola. Estamos a atravessar um período em que isto é absolutamente vergonhoso. Os portugueses estão convidados a ir cedendo direitos sociais, seja nas reformas, em campos diversos da proteção social, seja na educação, esperando que governos ou instituições venham dar a sua esmola. Isto é dramático", alerta.
No outro lado da barricada, o diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, diz que "os salários aumentaram 98% do que aumentou a produtividade".
"Ou seja, os salários acompanham quase a 100% a evolução da produtividade, portanto, para aumentar os salários, o que é absolutamente crucial é aumentar a produtividade. Tudo aquilo que seja para aumentar a produtividade, permite aumentar os salários e tudo aquilo bloqueia o aumento de produtividade, impede o aumento dos salários", considera.
Os jovens são um dos grupos mais afetados pelos baixos salários que se praticam em Portugal e Paulo Marques, coordenador do Observatório do Emprego Jovem, revela que o problema é "o padrão de especialização da economia portuguesa".
"Há algum receio em pôr em causa esses setores [hotelaria, restauração e imobiliário], porque resolveram o problema do emprego e isso é importante para a Segurança Social e é melhor ter emprego do que não ter. O problema é que isto nos trava o crescimento para setores mais avançados", considera.
De acordo com Paulo Marques, "os salários mensais dos jovens com menos de 30 anos representavam 55% da média salarial da União Europeia, 33% da média salarial da Suíça, 47% da média salarial da Alemanha".