Militares não entendem a razão de recuperarem menos tempo de carreira do que os professores. Funcionários judiciais criticam proposta "decalcada".
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Sargentos, funcionários judiciais e guardas não estão satisfeitos com a medida do Governo, aprovada esta quinta-feira, que vai permitir a recuperação de 70% do tempo de serviço para efeitos de progressão das carreiras especiais da administração pública.
A medida destina-se aos membros destas classes profissionais que não avançaram nas carreiras entre 2011 e 2017 e será feita em três fases, sendo que os detalhes adicionais desta proposta só serão conhecidos esta sexta-feira.
Contactada pela TSF, a Associação Sindical dos Juízes não quis pronunciar-se, alegando que vai estudar a medida antes de o fazer.
Já a Associação dos Profissionais da Guarda, por César Nogueira, considera que esta iniciativa é injusta porque os militares da GNR vão recuperar menos tempo de serviço do que os professores.
O representante dos profissionais da GNR explica que o Governo quer recuperar o correspondente "ao avanço de uma posição remuneratória", que no caso acontece "de três em três anos".
"Eles querem fazer 70% de três anos, o que dá em média um ano e oito meses para todas as categorias e postos. São só esses 70% que eles querem dar, não querem dar 70% dos anos que tivemos congelados: sete anos mais dois anos referentes a 2005-2007", critica.
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Por parte da Associação Nacional de Sargentos, Lima Coelho - que diz não conhecer ainda o novo documento - recorda que a última proposta apresentada era inaceitável.
"Não sei que diploma é, e com essa gestão em três fases, menos sei ainda. O diploma que me foi entregue não previa coisa nenhuma em três fases. E essa questão dos 70%: é 70% de quê, em que termos e para que militares? Nos levantámos uma série de dúvidas e questões, apontámos uma série de erros e não obtivemos respostas", começa por notar.
Reiterando que não conhece o diploma aprovado, Lima Coelho reforça que o Presidente da República "e Comandante-Supremo das Forças Armadas hoje, em Belém, tão bem elogiou os militares que são sempre louvados em todos os palcos onde participam", esperando que tal não aconteça só quando os militares vão para fora do país.
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Os funcionários judiciais, pela voz do presidente do sindicato, Fernando Jorge, admitem regressar aos protestos para demonstrar o desagrado para com esta decisão, que consideram desrespeitosa.
"É uma proposta decalcada daquela que foi apresentada aos professores, portanto temos a mesma posição. Trabalhámos e tivemos o tempo congelado durante nove anos, quatro meses e dois dias. Portanto, com dois anos, um mês e seis dias, obviamente é uma desconsideração e até uma falta de respeito" para com os funcionários judiciais, alerta.
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"Trabalhamos nove anos e eles só contam dois? Será que estivemos de férias nos outros sete?", pergunta de forma irónica o presidente do sindicato.
"Estivemos nas reuniões sempre de boa-fé, apresentámos as nossas questões, as nossas propostas, mostrámos disponibilidade para diferir no tempo a aplicação da recuperação dos nove anos. O ministério não quis aceitar, decidiu unilateralmente e, neste momento, a única coisa que nos resta é repensar as formas de protesto", avisa Fernando Jorge.
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