Proteção Civil admite que helicópteros de combate ao fogo não usam retardantes

Um helicóptero combate um incêndio florestal que deflagrou na aldeia da Perna da Negra, na Serra de Monchique, no distrito de Faro, 3 de agosto de 2018. Estão envolvidos no combate ao incêndio mais de 420 bombeiros, 126 meios terrestres, e 9 meios aéreos. Mais de 420 bombeiros, 126 meios terrestres, e 9 meios aéreos combatem as chamas que lavram desde as 13:32 zona de Perna da Negra, concelho de Monchique, no distrito de Faro, e que já obrigaram à evacuação de uma aldeia, segundo dados da Proteção Civil. FILIPE FARINHA/LUSA
Filipe Farinha/Lusa
As substâncias químicas, "de eficácia enorme", que permitem retardar a expansão do fogo não estão a ser utilizadas pelos helicópteros que estão a combater o incêndio de Monchique.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) admitiu que os 40 helicópteros de combate aos incêndios não utilizam produtos químicos para retardar o fogo, explicando que isso reduziria "a capacidade de transporte de elementos operacionais".
O especialista em incêndios florestais Xavier Viegas defendeu a utilização de produtos químicos no combate ao incêndio de Monchique para evitar reacendimentos, lembrando que os reacendimentos "estão identificados como um dos grandes problemas, que depois dão origem a incêndios ainda piores".
Também os bombeiros criticaram que não se estivesse a utilizar essa ferramenta e, esta quarta-feira, a ANPC explicou, em comunicado, que os 40 helicópteros de ataque inicial "não usam espumífero por ficar reduzida a sua capacidade de transporte de elementos operacionais a bordo".
A ANPC acrescenta ainda que "nos contratos celebrados para o período de 2013-2017 não foi prevista, igualmente, a utilização destes produtos", confirmando a manchete do Jornal de Notícias.
Além dos helicópteros, o Estado contratou também aviões anfíbios - médios e pesados - que "utilizam espumífero certificado nas missões que realizam a partir da sua base de origem", sublinha a ANPC.
No entanto, os especialistas dizem que os produtos químicos não estão a ser usados no incêndio que começou na sexta-feira em Monchique e continua ativo.
No comunicado enviado para as redações, a ANPC diz apenas que "o espumífero faz parte das obrigações contratuais, sendo fornecido pelas empresas contratadas que operam estes aviões".
Segundo a ANPC, em cada descolagem, um avião médio Fireboss carrega 70 litros de espumífero, que dá em média para 15 descargas, e cada avião pesado Canadair carrega cerca de 300 litros que dá aproximadamente 12 descargas.
Em Monchique estão cinco helicópteros e oito aviões, segundo a página da ANPC.
Xavier Viegas apontou o custo dos produtos químicos como a única razão para não estarem a ser utilizados: "Custa algum dinheiro, mas é largamente compensado com a economia que se pode ter com a redução das horas de combate, em especial nas horas dos meios aéreos", sublinhou, lembrando ainda os efeitos nefastos de um terreno ardido.
O especialista sublinhou ainda que "os produtos químicos certificados têm um impacto ambiental mínimo e uma eficácia enorme".
O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique, no distrito de Faro, já destruiu mais de 21 mil hectares, metade da área ardida na região em 2003.
O incêndio, que já lavra também nos concelhos vizinhos de Portimão e Silves, já provocou 32 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 181 pessoas mantêm-se deslocadas, depois da evacuação de várias localidades.