Próximos três anos serão "os mais desafiantes". Centeno diz que Portugal vive momento de reflexão
O governador do Banco de Portugal continua em silêncio sobre o convite polémico para ocupar o cargo de primeiro-ministro.
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O governador do Banco de Portugal (Bdp), Mário Centeno, disse esta quinta-feira que o país vive um momento que convida à reflexão e deixou o alerta: o crescimento da atividade económica não vai ser tão alto como no período pós-pandémico.
"Reunimo-nos aqui num momento em que o país é concitado, refletido, pensado. Devem todos, e não apenas o Banco de Portugal, ser convidados a refletir", disse Mário Centeno, no discurso de abertura do evento "Grande Encontro Banca do Futuro", organizado pelo Jornal de Negócios e pela Clarane, passando a citar versos do poema "Abandono" de David Mourão Ferreira.
"Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar."
Depois de um início poético, o governador do Bdp prosseguiu para a análise da economia portuguesa, com destaque "para a inflação que já converge para os 2%" e para o mercado de trabalho que "tem dado sinais de enorme resiliência".
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"Foi com livre pensamento que, na verdade, atingimos a estabilidade financeira de que hoje a banca desfruta. (...) Podemos lançar este período de incerteza geopolítica de uma forma que o país nunca esteve em posição de o fazer", disse.
No entanto, Centeno alertou que, se Portugal saiu "de uma crise com o nível de dívida pública total inferior aquela com que entrou", agora antecipam-se "os três próximos anos mais desafiantes".
"Estamos colocados durante um dilema: o de manter o nosso crescimento com estabilidade financeira, social e redução das desigualdades", considerou, acrescentando que a dimensão externa é a principal causa da desaceleração da economia.
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Sobre o futuro da banca, Mário Centeno apontou o risco de crédito, o investimento em cibersegurança ou a gestão de riscos (climáticos e ambientais) como alguns dos desafios.
"O que mais desejo para banca é que adote políticas prudentes de constituição de imparidades e capital. Neste momento em que muitos olham para os resultados e acham extraordinários e excessivos, estes resultados têm uma dimensão cíclica excessiva e felizmente a banca tem respondido ao desafio de remuneração das poupanças, de atenção aos clientes, há dezenas de milhares créditos renegociados", concluiu.
O governador do Banco de Portugal esteve recentemente envolvido numa polémica após ter sido convidado para ocupar o cargo de primeiro-ministro, mas durante o seu discurso não fez qualquer menção ao assunto.