PS com críticas à justiça. Ferro fala na "crise mais grave da democracia"
Corpo do artigo
À porta fechada, António Costa pediu aos socialistas que se concentrem nos problemas dos portugueses e deixem as questões da justiça de lado. Mas o alvo, na comissão nacional do PS, foi, precisamente, a operação que deitou abaixo o Governo de António Costa.
Desde logo, Eduardo Ferro Rodrigues, que utilizou um tom duro contra o clima de suspeição que se abateu sobre o PS. O antigo presidente da Assembleia da República voltou a uma reunião socialista após vários anos, naquele que é visto como um dos momentos mais críticos do partido.
Ferro Rodrigues pede responsabilidades e fala na crise mais grave da democracia "originada por um comunicado irresponsável, ou consciente dos efeitos que produziria, ou então analfabeto de responsabilidade da Procuradoria-Geral da República, referindo o Supremo Tribunal de Justiça".
"Sabia e escrevi que o único objetivo de quem ficou surpreendido e furioso com a maioria absoluta do PS era destruí-la. Em 2023, em 2024 ou mesmo em 2025. Foi em 2023", acrescentou.
TSF\audio\2023\11\noticias\18\francisco_nascimento_ps
O socialista, que liderou o partido entre 2002 e 2004, assume que está preocupado com o futuro da democracia e disse aos militantes que quer "dedicar a última fase da vida política a defender a causa das causas".
Elogios só para António Costa, que ainda "vai dar muito ao país e à Europa", embora admita que o primeiro-ministro "nem sempre se soube rodear por pessoas irrepreensíveis".
Os membros da comissão nacional, tal como já tinha ficado evidente na semana do início da crise política, deixaram palavras de apreço para António Costa, que se diz "de consciência tranquila" quanto ao caso judicial. O trabalho ao longo dos últimos oito anos foi um dos principais destaques dos intervenientes.
Um deles foi o presidente do partido, Carlos César, que tem sido um dos principais defensores de António Costa desde 7 de novembro, embora admita que o partido nem sempre soube ouvir os anseios dos portugueses. Mas os elogios foram colocados de lado quando as palavras se dirigiram para Marcelo Rebelo de Sousa. Na opinião do socialista, o Presidente da República foi "imprudente" quando optou pela marcação de eleições.
O calendário socialista está agora alinhado com a crise política (eleições diretas a 15 e 16 de novembro; congresso a 6 e 7 de janeiro). E os alvos internos também parecem estar definidos.
Costa "vai colocar-se ao dispor" do futuro líder (e pede foco nos portugueses)
António Costa voltou a garantir que não vai declarar o apoio a nenhum dos candidatos à liderança do PS, "respeitará quem ganhar" e "vai colocar-se ao dispor" da futuro direção, dando a entender que a saída do Governo pode não ser um ponto final na sua carreira política. O primeiro-ministro falou aos socialistas, na abertura da comissão nacional, sem fazer referências diretas aos dois candidatos, de acordo com fontes ouvidas pela TSF.
"Emprego, emprego, emprego" é a grande herança dos Governos socialistas desde 2015, de acordo com o próprio António Costa, que destaca também o crescimento do país, em grande parte dos anos acima da média europeia.
O primeiro-ministro reforça que "está de consciência tranquila", no que toca à Operação Influencer, e pede aos militantes que "falem de políticas" e não se centrem na justiça, uma mensagem repetida nas últimas reunião do partido, desde a crise política.
