Porta aberta, mas exigência na convergência. O Bloco foi-se manifestando, ao longo de dois dias, mostrando que talvez o divórcio não seja irremediável. Contudo, há linhas vermelhas neste diálogo.
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Teimosia e arrogância. O Governo socialista é retratado com palavras fortes, mas que remetem ao passado. Na XII Convenção Nacional, o Bloco de Esquerda não deixou de falar das feridas, e também reforçou que a convergência não virá de mão beijada. Mas a possibilidade de retomar conversações após o divórcio prova que não se trata de um conflito insanável.
Na véspera da convenção do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua já tinha assumido, no Bloco Central, da TSF, que o BE tinha disponibilidade para regressar ao diálogo com o PS, mas com metas concretas, como as leis laborais ou a exclusividade para os profissionais de saúde em mente.
A deputada analisou o que impedira o Bloco de Esquerda de se alinhar com o PS no voto favorável ao Orçamento do Estado para 2021: Não houve um entendimento porque o Partido Socialista não quis a exclusividade dos médicos, não quis alterar a lei laboral e não quis tirar o Novo Banco do Orçamento do Estado, e é bom que isto fique claro, para que todas as partes assumam as suas responsabilidades neste processo." Mas a porta, essa, deixava-a entreaberta, ou mesmo aberta. "Espero que possa abrir negociações e entendimentos no próximo. A nossa posição mantém-se, e a nossa disponibilidade e vontade mantêm-se."
A mesma porta que Catarina Martins fez questão de abrir no início da XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda. A coordenadora do Bloco de Esquerda negou "ressabiamentos" ou "estados de alma", defendendo, em vez disso, soluções para o futuro, mas que têm de passar pelo estancamento de injeções ao Novo Banco, pelas leis laborais, aumento de profissionais de saúde e a sua exclusividade em relação ao SNS.
"Queremos decisões, não queremos promessas, queremos soluções. Não atuamos por ressabiamentos, não temos estados de alma, não ficamos zangados pelo facto de o PS ter fechado a porta a uma solução para quatro anos." A líder do Bloco garantiu: o BE abrirá uma "outra porta".
À chegada da convenção, Mariana Mortágua, reforçou que há ainda tempo para negociar o OE2022. "Há muito tempo para fazer essas negociações", respondeu a deputada à TSF, quando questionada sobre a demora de uma chamada dos socialistas no sentido de um entendimento com o Bloco.
Com o Bloco a repetir-se dizendo que não vai abdicar de exigências essenciais, e com alguns críticos internos a dirigirem alguns comentários ao pressuposto "encosto" do BE ao PS, as vozes da moção A, a que mais votos reúne, seguiram o mesmo tom.
O deputado Moisés Ferreira, muito crítico em relação à posição do Executivo face ao levantamento da patente das vacinas e à escusa do Governo em determinar a requisição civil, também remeteu para o terreno das possibilidades a aprovação do próximo Orçamento. "Não nos perguntem o que podemos fazer em relação a um Orçamento socialista que desconhecemos."
Já na perspetiva de Marisa Matias, o Bloco permanece um " partido sempre disponível para apresentar propostas". Francisco Louçã também deu o mote. Não pode haver, considera o fundador do Bloco, "encontros e desencontros na esquina", mas negociações e compromissos "que aproximem e dignifiquem".
Após a sua intervenção, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, também reafirmou, em declarações à TSF, que o Bloco só aprovará o OE2022 "pelo conteúdo que lá estiver". O deputado que se encontra em licença parental garante que o Bloco partirá no entanto para as negociações do Orçamento "sem qualquer tipo de amuos ou subjetividades emocionais", tecendo apenas uma "análise concreta e objetiva".
O PS "terá sempre o nosso contacto para fazer" a negociação do documento orçamental. "Se quiser o apoio do BE para esse Orçamento, também sabe o que tem de fazer", acrescentou Pedro Filipe Soares. Aliás, questionado sobre as últimas sondagens, que dão conta de que a preferência ainda recai no conjunto da esquerda, o líder da bancada parlamentar considerou que tal se deve aos "quatro anos em que o denominador comum significou o avanço para o país ". Pedro Filipe Soares assegurou que "o Partido Socialista é que se afastou desse denominador comum", e comentou que os eleitores têm "muita expectativa sobre o que será este período pós-pandémico".
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