PSD acusa MAI de "desfaçatez, desconhecimento e falta de respeito" com polícias

Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna
Orlando Almeida/Global Imagens
Estão em causa as declarações de Eduardo Cabrita à TSF e ao Diário de Notícias de que os agentes compram equipamento com dinheiro próprio "porque querem".
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O grupo parlamentar do PSD repudiou este domingo as declarações do ministro da Administração Interna, que afirmou que os polícias compram equipamento do seu bolso porque querem, acusando Eduardo Cabrita de "desfaçatez, falta de respeito e desconhecimento".
Em causa estão declarações do ministro numa entrevista divulgada à TSF e ao Diário de Notícias , na qual Eduardo Cabrita é questionado sobre as notícias que dão conta de agentes policiais "que compram equipamento de proteção do seu próprio bolso".
"Compram porque o querem e não têm nenhuma necessidade de o fazer. É preciso dizê-lo com toda a transparência. Há matérias que são diferentes, que são fardamento, em que há um subsídio. Mas o que é considerado como necessário pelos comandos é aquilo que é atribuído", respondeu Eduardo Cabrita.
Em nota enviada à Lusa, o grupo parlamentar do PSD "repudia" estas declarações, considerando que "revelam desfaçatez, falta de respeito pelas forças de segurança e um desconhecimento atroz da realidade que estas forças enfrentam".
"Dizer que os polícias só compram material porque querem é troçar de quem lida no dia-a-dia com esta evidência, é negar a falta de equipamentos suficientes e de qualidade, e é uma tentativa despudorada de manipulação da opinião pública", criticam os sociais-democratas, acusando Eduardo Cabrita de revelar "falta de sentido de Estado e de responsabilidade que o cargo que ocupa exigem".
As palavras do ministro foram mesmo mal recebidas pelo vice-presidente da bancada parlamentar social-democrata, Carlos Peixoto, que reagiu à TSF com "total perplexidade e completa indignação", na sequência destas considerações. "Não consigo sequer perceber, porque me parece quase uma troça relativamente àquelas forças de segurança que têm mesmo de comprar material."
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"Estas declarações revelam uma desfaçatez que não julgávamos possível porque até parece que os polícias não têm mais onde gastar dinheiro. Não faz o menor sentido, e tem que causar repulsa e repúdio por parte do grupo parlamentar do PSD", prossegue Carlos Peixoto, que aproveita ainda para assinalar a situação de "penúria" das forças de segurança.
Na nota enviada à Lusa, o grupo parlamentar do PSD considera que o recente debate na especialidade do Orçamento do Estado com o ministro da Administração Interna confirmou "a necessidade de garantir meios, equipamentos e pessoal nas forças de segurança".
"As lamentáveis declarações de hoje do MAI desmentem as declarações das forças de segurança e são atentatórias do decoro e do sentido de verdade com que deve exercer o seu cargo", refere.
Também o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, César Nogueira, deixa críticas a esta intervenção de Eduardo Cabrita: "Só demonstra desconhecimento por parte do senhor ministro. Possivelmente não por culpa dele, porque acredita no que as estruturas de comando lhe transmitem."
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"Um par de algemas é um equipamento essencial para o dia-a-dia de um agente de autoridade. Uma simples fita métrica é necessária para a patrulha de ocorrências, e, se os agentes não comprarem essa fita, terão de medir a passo", exemplifica. Sobre os "coletes balísticos", César Nogueira diz também que, "se num posto houver três, no máximo quatro, e alguns já fora da validade, não chega para o efetivo todo".
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No debate no Parlamento, na quarta-feira, o ministro da Administração Interna anunciou o recrutamento de dez mil elementos para as forças e serviços de segurança até 2023 no âmbito do plano plurianual da admissão.
O governante precisou que estas admissões serão feitas "em função das saídas previstas" e "das alterações do modelo operacional", destacando que as polícias vão ter "programado atempadamente aquilo que são as necessidades de contratação".
* Atualizado às 16h15