PSD apela à suspensão da greve dos técnicos do INEM, PS atira culpas ao Governo e fala em "situação explosiva"
Os problemas no INEM subiram a debate no Fórum TSF. O PSD afirma que "é fundamental criar um clima de confiança para proteger as pessoas", a oposição responsabiliza o Executivo pela "rutura do sistema"
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O PSD considera que é preciso devolver a "confiança" aos portugueses perante as dificuldades que o INEM enfrenta. No Fórum TSF, o deputado Miguel Guimarães apelou aos técnicos de emergência pré-hospitalar que terminem a greve às horas extraordinárias que já se prolonga há uma semana.
"Deixo um apelo aos técnicos de emergência pré-hospitalar para suspenderem esta greve ao trabalho suplementar e entrar em diálogo com a ministra da Saúde. Eu acho que isto é fundamental para criar um clima de confiança, para protegermos as nossas pessoas e as pessoas sentirem que estão protegidas. Sabemos todos que, muitas vezes, a emergência não consegue salvar algumas vidas, é verdade, mas o funcionamento normal da emergência médica é absolutamente essencial para salvarmos muitas vidas", afirma.
A situação no INEM esteve em discussão no Fórum TSF. Nos últimos dias, foram várias as denúncias de demoras no atendimento, em alguns casos, superiores a uma hora, e há seis casos de pessoas que morreram à espera de socorro. As dificuldades de resposta do INEM agravaram-se com a greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que dura há uma semana. O INEM já garantiu que vai colocar enfermeiros, a partir da próxima segunda-feira, no centro de atendimento de doentes urgentes e até ao final do ano quer contratar mais 200 técnicos de emergência pré-hospitalar.
O deputado socialista João Paulo Correia desafia a ministra da Saúde a governar e defende que as medidas já deveriam ter sido tomadas. "Esperemos que estas medidas deem algum resultado positivo. Ainda é muito cedo para fazer essa avaliação, mas já deviam ter sido tomadas há muito tempo. Não era necessário morrerem cidadãos por falta de emergência pré-hospitalar para que o Governo se interessasse por cumprir minimamente as promessas que fez há muitos meses no Parlamento ao INEM e aos seus técnicos", atira o socialista.
"Não temos outra forma de dizer ao Governo a não ser dizer que há responsabilidades concretas da senhora ministra da Saúde pela rutura do sistema de emergência pré-hospitalar que o país vive neste momento e também é da responsabilidade da senhora ministra e do senhor primeiro-ministro a situação explosiva que o INEM enfrenta. Acho que é altura, de uma vez por todas, dizer à senhora ministra da Saúde que seja ministra e que governe", sublinha.
O deputado do Chega Rui Cristina considera que as medidas anunciadas pelo INEM são insuficientes. "O INEM agora apresentou medidas, como a triagem prioritária, os reforços nas centrais de CODU e a automatização de atendimento telefónico. Mas isto sabe-nos a pouco. Nós sabemos é que a senhora ministra chegou ao cargo há sete meses, sabe que esta situação é crítica, estão vidas em jogo e não pode estar aqui continuamente à espera que estes profissionais estejam sempre disponíveis para fazer horas extras e que abdiquem das suas vidas pessoais", defende, acrescentando que "a senhora ministra tem de agir o quanto antes, tem de agir já. É fundamental reunir com este sindicato e rever as condições salariais".
No entender de Mário Amorim Lopes, da Iniciativa Liberal, o Estado tem de valorizar os profissionais do INEM e deixa um desafio à ministra da Saúde.
"O INEM tem receitas próprias, tem receitas que são cerca de 2,5% de seguros de vida e de seguros de saúde. Portanto, não são transferências do Orçamento de Estado, são receitas próprias e, no final do ano, quando estas receitas não são totalmente usadas, elas depois transitam para o Estado central. Ou seja, o INEM poderia ter acumulado aqui algum fundo de maneio importante para, por exemplo, ter renovado os helicópteros a tempo ou contratado mais gente e estava sempre dependente das autorizações políticas a cada ano que decorriam do Orçamento de Estado. Creio que isto também limitou muito a atividade do INEM. Instamos a ministra a refundar o INEM, devolvê-lo àquilo que é a sua ação essencial e que só o INEM pode fazer e valorizar os seus profissionais, porque não existe INEM sem técnicos de emergência pré-hospitalar e também sem médicos e enfermeiros", assinala.
Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, defende que as medidas que o INEM tomou ficam aquém do que é necessário.
"Foi aberto agora um concurso, já tinham sido abertos no passado, dos concursos abertos ficaram vagas preocupar, porque é que ficaram vagas por ocupar? Porque é que não se consegue fixar profissionais? Porque é que os técnicos de emergência pré-hospitalar abandonam o INEM e procuram outras soluções para a sua vida?", questiona, sublinhando: "Algo precisa de ser resolvido e o problema está na desvalorização das carreiras e dos salários, é preciso valorizar a carreira, é preciso valorizar os salários, é preciso garantir condições de trabalho." "O Governo está a fazer isto? Não está?", atira.
Para Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, os problemas no INEM não surgiram agora. A deputada bloquista considera que o Governo está a deixar arrastar o problema. "Este problema vem de trás e já havia relatos há muito tempo da falta de meios, meios que não estavam a ser utilizados por falta de recursos humanos, de chamadas que já estavam em espera, às vezes uma hora ou mais. Ou seja, estes relatos vêm de há muito tempo, têm-se acumulado e, por isso, não são de agora, mas, na verdade, o que tem acontecido é que, quer o Governo anterior, quer o atual Governo, têm empurrado este problema com barriga", refere.
Já Paulo Muacho, deputado do Livre, acusa a ministra da Saúde de não encarar o INEM como um assunto prioritário. "Estamos numa falta crónica de recursos humanos e de pessoas para fazer este trabalho, que é essencial, e que, se não estiver a funcionar, tem consequências muito graves para a saúde das pessoas. E a ministra, em vez de ter dado como prioridade o INEM, aquilo que nós temos visto desde o início do mandato, é, em primeiro lugar, a questão dos helicópteros que foi usada como mera desculpa para conseguir a demissão da anterior direção do INEM, quando agora vem o Governo anunciar um concurso que vai dar exatamente ao mesmo daquilo que estava a ser proposto. Temos a ministra várias vezes a falar em refundação do INEM. Já tivemos oportunidade de perguntar à ministra várias vezes o que significa efetivamente esta refundação do INEM e nunca obtivemos uma resposta", diz.
