"Publicidade gratuita para privados." Diretores e professores criticam rankings que "pouco servem para definição de políticas educativas”
A utilidade dos rankings das escolas subiu a debate no Fórum TSF desta sexta-feira. Quer diretores, quer professores falam numa "enorme injustiça". Já o Conselho Nacional de Educação sublinha que estas listas existem há 24 anos e, até hoje, não resultaram benefícios para as escolas portuguesas
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A Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) defendeu esta sexta-feira, no Fórum TSF, que os rankings “não passam de publicidade gratuita para as escolas privadas”. A mesma posição foi partilhada pelos professores, para os quais estes números “servem muito pouco para a definição das políticas educativas”.
Manuel Almeida, presidente da ANDE, começou por considerar que os números revelados esta sexta-feira traduzem “uma enorme injustiça para todas as escolas que têm projetos educativos fantásticos, que são absolutamente inclusivas, que recebem centenas ou milhares de alunos de outros países e aos quais têm de dar resposta todos os dias”.
“Isto em nenhuma circunstância se irá refletir nos rankings que agora estão a ser publicados”, insistiu.
Para Manuel de Almeida, estas listas devem ser encarados pelo Governo “com olhos de ver”, na medida “em que sistematicamente há um conjunto de escolas que pertencem a um país abandonado que aparece nos últimos lugares das listas”.
Os rankings não passam de publicidade gratuita para as escolas privadas, permita-me o desabafo. Isto é uma luta entre as escolas privadas a tentar ficar nos primeiros 40 todos os anos.
Os diretores chamaram ainda atenção para a localização da maioria das escolas “em zonas despovoadas” ou “regiões que precisam de apoio e mais emprego”.
Sobre esta questão, o professor António Castelo Branco sublinhou: “Se olharmos para o mapa do país, verificamos que Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve estão com médias inferiores às escolas do Centro e Norte do país.”
Já António Teodoro, professor catedrático de Ciências da Educação na Universidade Lusófona, recuperou a ideia de “publicidade” defendida por Manuel de Almeida, afirmando que os rankings são uma "mentira" com critérios que não traduzem “o valor acrescentado” das escolas.
“Temos rankings há 24 anos e questiono: que benefícios resultaram para as escolas portuguesas?”
Também ouvido no Fórum TSF, o presidente do Conselho Nacional de Educação questionou a utilidade dos rankings. Para Domingos Fernandes, não existe “nenhum estudo credível que nos tenha revelado, de facto, que o sistema português melhorou no seu conjunto com a divulgação destes dados”.
“Estamos perante uma medida unidimensional, que agrega resultados de vários exames para produzir um número que supostamente traduz a qualidade do trabalho que se desenvolve numa escola”, atirou, sublinhando que ensinar é uma “atividade inteiramente humana” para estar a ser quantificada numericamente.
“Há aqui uma visão injusta que penaliza as escolas inseridas em contextos difíceis”, concluiu.
A classificação divulgada esta sexta-feira mostra que os alunos dos colégios continuam a ter melhores resultados nos exames do secundário, com a primeira pública a surgir apenas em 33.º lugar de uma tabela nacional em que os estabelecimentos públicos localizados no norte ficam melhor na fotografia.
