"Qualquer ministro da Saúde tem um trabalho impossível, porque o SNS não tem as reformas necessárias há pelo menos 20 anos"
O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Altamiro da Costa Pereira, em entrevista ao JN, defende que o SNS tem muito a "aprender" com os grupos privados
Corpo do artigo
A decadência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) já se acumula há mais de 20 anos, denuncia o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Em entrevista ao Jornal de Notícias (JN), Altamiro da Costa Pereira considera que qualquer que seja o ministro da Saúde não vai conseguir resolver os problemas.
"Qualquer ministro da Saúde tem um trabalho praticamente impossível, porque o Serviço Nacional de Saúde tem vindo a não ter as necessárias reformas desde há pelo menos 20 anos. Portanto, foram-se acumulando erros e problemas políticos de financiamento de imensas questões que não foram resolvidas atempadamente", afirma Altamiro da Costa Pereira, acusando o acionista Estado de estar desatento na gestão do SNS.
O diretor da FMUP defende, por isso, que o SNS tem muito a "aprender" com os grupos privados, "mas não é fácil". "Enquanto os privados têm acionistas que estão atentos e que querem que aquilo funcione para depois poderem receber os seus dividendos, o povo português, infelizmente, não tem muitas formas de estar atento. O acionista é Assembleia da República, mas desse ponto de vista, não tem, pelo menos no meu entender, tido a necessária atenção para colocar o sistema sobre uma vigilância mais atenta", argumenta.
Altamiro da Costa Pereira afirma ainda que o sistema "profundamente errado e corrompido". "Não é de agora, não é do atual Governo, não é da atual ministra. O sistema foi sendo sistematicamente corrompido há muitos anos, fruto muito dos desafios societais", refere, sublinhando que "foram sendo encontradas soluções adhoc que, em boa verdade, parece que vão melhorar determinados pontos do sistema, mas depois acabam por piorar a médio e longo prazo tremendamente o sistema e a sua eficiência".
Para o diretor da FMUP, é necessária uma articulação dos serviços em vários pontos do país, "tal como tem, por exemplo, a CUF". "Temos de concentrar os recursos em pontos nevrálgicos do país, mas, ao mesmo tempo, ter belas redes de referenciação e belas formas de comunicação com essas zonas", acrescenta.
