Ao longo da vida teve muitos ofícios, foi agricultor mas também pedreiro. Viúvo há 20 anos, é com orgulho que diz que faz tudo sozinho. Na última sexta-feira, 23 de outubro festejou cem anos. Para assinalar tão preciosa e importante data, ele próprio confecionou dois bolos para partilhar com os amigos.
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Manuel Duarte não depende de ninguém e é com orgulho na voz que conta que faz tudo sozinho. Vai às compras, faz a comida e mantém a casa limpa.
Na semana passada, em vésperas de fazer cem anos, decidiu limpar o teto, as paredes e os azulejos da cozinha. Diz que foi tudo limpo, nada ficou por lavar, nem atrás do fogão, nem atrás da máquina de lavar. Usou o escadote e uns aparelhos que inventou para limpar onde não conseguia chegar. Estas são apenas algumas das tarefas domésticas que Manuel Duarte vai fazendo no seu dia-a-dia.
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É viúvo há 22 anos. Dos familiares quer distância, porque diz que desde que a mãe morreu "só tentaram rouba-lo". Quanto aos amigos, são selecionados. E foram os amigos que na ultima sexta-feira prepararam a festa. Uma festa onde não puderam estar todos por causa da pandemia. Não faltou o bolo das 100 velas, nem o champanhe, na festa preparada pela Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Azul, nas Caldas da Rainha, onde Manuel Duarte vive há 24 anos .
Para a festa, Manuel Duarte fez dois bolos que aprendeu a fazer há muitos anos, quando a mulher, Maria Adelaide trabalhava em casa de uns senhores - "um bolinho com recheio de chocolate e um bolinho com passas".
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Mas o dia de aniversário nem sempre foi assim. Em miúdo, no dia em que fazia anos havia duas constantes "comia couves de carne e uma tareia". Manuel Duarte explica que gostava pouco de couves, mas era o que havia e a mãe, coitada, queria que ele as comesse antes de ir levar o "jantar" ao pai. Como ele se recusava, seguia-se o habitual "comes ou não comes? pumba, pumba e levava". Era uma casa pobrezinha!", acrescenta .
A vida foi sempre de muito trabalho. Primeiro na agricultura, depois aos 14 nos começou a partir pedra com o pai. Manuel Duarte diz que não tem profissão certa "fui tanta coisa...."
Com Maria Adelaide esteve casado até aos 78 anos, depois tem aproveitado os anos de viuvez para fazer amigos e amigas. Conheceu e conviveu com mais de uma dezena de mulheres "mas vinham atrás do que eu tinha, queriam aproveitar-se e eu é que limpava e cozinhava". Manuel Duarte afirma que não se quer gabar, mas garante que foram muitas": duas equipas de futebol.
Agora, a pandemia obriga-o a mais recato, Manuel Duarte garante que ainda anda bem a pé, mas cansa-se, por isso comprou uma scooter que o leva a todo o lado.
Este ano, a festa dos cem anos foi a possível. Manuel Duarte tinha idealizado um dia diferente: "Eu queria uma festa ao ar livre, para toda a gente que passasse", amigos e desconhecidos. Infelizmente não foi possível. Talvez para o ano.