Trata-se de um tema carregado de preconceitos: a sexualidade na Terceira Idade é encarada como um tabu.
Corpo do artigo
Patrícia Marques, gerontóloga e professora na Universidade Sénior de Tondela, acredita que já não demorará muito tempo até que as mentalidades mudem. Mas enquanto isso não acontece, falar de sexo entre os idosos pode ser um assunto desconfortável.
TSF\audio\2018\10\noticias\01\paula_dias_longo
A gerontóloga começa por contar-nos uma história de amor entre duas pessoas de 80 anos: "Encontraram-se num lar, apaixonaram-se, casaram e passaram a ter um quarto só para eles...".
"Uma vez por semana, a família era chamada porque um deles estava com problemas cardíacos e tinha de ser levado para o hospital", lembra. "Até que descobriram que era porque eles tinham um momento de intimidade e alterava o [ritmo] do coração. O pessoal do lar ficava preocupado, pensando que se tratava de uma alteração por causa de uma doença, mas não era".
A situação causou desconforto à família. «Como pode a minha mãe...?», «A minha avó!?!», questionavam. "Para as pessoas do lar que cuidavam deles já era uma coisa mais ou menos natural, mas para os familiares não", diz Patrícia Marques. "As pessoas vão envelhecendo e nós vamos olhando para elas quase como se fossem uns 'anjinhos', uma figura muito angelical. E depois vê-se o avô ou a avó a ter uma vida assim e causa um pouco de embaraço", explica.
Os mais velhos também sentem desejo e prazer sexual, mas, na Terceira Idade, a sexualidade é alvo de muitos preconceitos. Algo que a gerontóloga relaciona ao facto de, com o avançar da idade, as pessoas deixarem de corresponder ao padrão de beleza aceite pela sociedade. "A cobrança de corpos perfeitos quase que nos vai anulando, quando não correspondemos a esse padrão imposto", afirma.
No trabalho que desenvolve com os idosos, Patrícia Marques procura confrontá-los com estas 'ideias feitas'. Questiona-os sobre o porquê de não poderem ter uma vida sexual ativa e o porquê de ser difícil falar sobre esse assunto. "Colocando-os a falar e a refletir sobre isso, eles vão se apercebendo que tudo se trata de uma 'receita' que lhe foi projetada quando eram crianças e cresceram com essa ideia. Nunca pararam para pensar. É quase uma resposta automática que, muitas vezes, não tem a ver com o que eles, na verdade, sentem", refere Patrícia Marques.
No entanto, a gerontóloga faz sempre questão de deixar um conselho aos mais velhos: "Não vamos poder comparar a nossa relação na Terceira Idade com aquela que tínhamos quando estávamos nos 40 ou 50 anos". É que nesta fase da vida, já se é "uma pessoa diferente, com experiências e necessidades diferentes", e isto aplica-se também ao nível da sexualidade.