Quando o centro de saúde falha, resta a urgência do hospital. "A afluência é razoável"
A falta de resposta nos centros de saúde tem levado muitos doentes às urgências hospitalares, onde acabam expostos a um ambiente mais perigoso, em contexto de pandemia. No Hospital de São João, no Porto, existem dois circuitos distintos, que garantem a separação dos pacientes que têm Covid e os que não têm.
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Não há uma barreira física, mas ninguém alcança a Urgência do Hospital de S. João sem dizer ao segurança Paulo Salgado ao que vem, e para onde vai.
"Normalmente pergunto se vem com alguma indicação da linha Saúde 24, se lhe enviaram uma mensagem e se automaticamente receberam feedback... Há pessoas que aparecem aqui por casualidade e então encaminho para o enfermeiro e ele depois dá outra informação mais precisa. Eu estou aqui para auxiliar naquilo que for necessário.
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Um automóvel ligeiro aproxima-se. Transporta três pessoas, Marina Silva, a condutora, a mãe e a tia que tem de ser submetida a uma cirurgia. Questionada se tem receio de a familiar ficar infetada, Maria responde, "receio acho que todos temos. Mas se todos tivermos os devidos cuidados acho que não há problema em relação à Covid-19. Nós viemos por indicação do médico de família".
Paulo Emílio Mota enfermeiro-chefe da Urgência explica como funciona o atendimento a quem não padece de Covid-19.
"Se o doente for não Covid, acede diretamente ao serviço de Urgência e faz o seu processo normal de inscrição, de triagem e de observação em contexto não Covid e entra no circuito normal do serviço. Vamos passar por lá".
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Na triagem, dois enfermeiros interrogam doentes não Covid. Eduarda Bonito refere que os atendimentos pouco reduziram nesta segunda vaga da pandemia.
"Isso notou-se mais na primeira vaga, nesta vaga ainda não se tem notado isso. Temos tido uma afluência razoável. Em muitos casos são situações que não careciam uma vinda à Urgência".
Não raras vezes escuta queixas dos doentes que não conseguem aceder aos cuidados de saúde primários, como "um senhor que veio aqui há pouco por causa de uma hipertensão, não tinha mais nenhuma queixa, mas não conseguiu ser atendido pelo centro de saúde, por isso a empresa mandou-o para cá. Infelizmente há doentes que relatam esta situação".
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Atrás de uma porta, depois da triagem, um pequeno corredor abre caminho a uma sala de espera. Sandra Leite tem uma dor provocada por uma hérnia. A Urgência foi a última opção, porque não tinha alternativa.
"Liguei para o centro de saúde, mas ninguém atendia. Fui lá e tive que vir para cá. Disseram-me que não tinha vagas para me atender".
Apesar da separação de circuitos, a Covid-19 está sempre presente e altera prioridades, mas Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência de Medicina Intensiva, garante que o serviço tem estado à altura.
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"Tentamos sempre, nesta fase, não impactar a atividade nos doentes não Covid. Temos tido algum sucesso, mas já existe algum impacto, mas não em doentes prioritários".
O serviço de Urgência ganhou recentemente uma área de quinhentos metros quadrados para doentes não Covid. Não se trata de um aumento da capacidade de resposta, é mais um espaço disponível e que visa, sobretudo, aumentar o conforto e a segurança dos pacientes não infetados pelo coronavírus.
