O Parque das Nações é um tapete urbano, viçoso e moderno que esconde um passado sujo. Lá debaixo há restos de uma lixeira municipal, de um matadouro, de um depósito de explosivos ou de refinarias. Quando as obras vão mais fundo, às vezes, o passado vem à tona. Pelo meio há uma reserva de água para consumo humano.
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A Escola do Parque das Nações é sinal de que passados 20 anos se aprendeu alguma coisa. A Câmara Municipal de Lisboa garante à TSF que todas as obras em locais suspeitos de contaminação estão agora sujeitos a avaliação prévia. É o que vai acontecer com o fim das obras de conclusão da escola, estão condicionadas a uma avaliação dos solos. Se houver contaminação, antes de construir será tudo limpo.
A escola foi inaugurada há 8 anos."Temos quase a certeza de que ali não haverá grandes problemas. A escola fica na área da refinaria, mas ali só haveria armazéns", é o palpite de Carlos Ardisson. Pertence à direção da Comissão de Moradores da Cidade Imaginada. Chama-se mesmo assim.
Carlos já toma conta destes terrenos desde 1992. Mal foi anunciado que a próxima Exposição Mundial seria ali, naquela zona industrial decadente. "Em 93 comprei uma máquina de filmar e comecei a registar tudo...". Até hoje.
Quando o Hospital das Descobertas se quis expandir e construir cinco pisos abaixo do solo, não foi a câmara de filmar que detetou problemas. Foi o nariz dos moradores que deu o alerta. O cheiro trazia de volta a imagem das refinarias com depósitos naquele mesmo local.
"Até hoje nunca tivemos qualquer informação oficial do que passava. Vieram fazer análises à qualidade do ar, mas fizeram-nas a quilómetros daqui. Criou-se uma comissão, cujos trabalhos nunca nos foram apresentados". Agora têm, pela primeira vez, uma promessa do Presidente da Câmara de que não se há de repetir com a escola o que se passou no hospital.
O relatório com as conclusões da tal comissão, está disponível na internet. Diz que as medidas cautelares estão quase todas na lei, mais concretamente no Plano Diretor Municipal de Lisboa. Lê-se que quem quiser fazer obras em locais potencialmente contaminados, que impliquem mexidas no subsolo, deve fazer uma avaliação da qualidade das terras. Por iniciativa própria ou mediante notificação da Câmara. Se houver contaminação, os solos têm de ser descontaminados.
"Há cerca de um ano, as contas mostravam que remover uma tonelada de solos contaminados custava 5 vezes mais que uma tonelada de solo normal", conta Carlos Ardisson.
Em esclarecimento enviado à TSF, a Agência Portuguesa do Ambiente explica que cabe à Câmara de Lisboa licenciar e acompanhar a construção nesta zona da cidade. Acrescenta que a autarquia está nesta altura a fazer um inventário de todos os solos potencialmente contaminados em Lisboa.
É uma reivindicação antiga de partidos como o Partido Ecologista os Verdes. "Foi o que solicitámos. E que essa listagem seja divulgada à população", diz Cláudia Madeira, deputada municipal de Os Verdes.
"Continuamos à espera, até porque a construção na zona da Expo continua e já houve vários exemplos de problemas, como no Campo das Cebolas". Aqui foi a construção de estacionamento subterrâneo que lembrou ter estado ali uma bomba de gasolina.
A comissão criada o ano passado pelo governo para avaliar a situação nos terrenos da antiga Expo também trouxe à superfície uma surpresa, a de que "o Parque das Nações é abrangido por uma massa de água subterrânea classificada como zona protegida para a captação de água para a produção de água para consumo humano". Recomenda-se por isso que haja análises à qualidade desta água.
O passado recente não é tranquilizador. Carlos Ardisson lembra-se como durante as obras no Hospital das Descobertas foi bombeada muita água para a rede de condutas pluviais. Água que desaguava no Tejo e deixava enormes manchas de óleo. "Fotografámos tudo, temos tudo documentado. Chamámos a brigada ambiental da GNR, mas só apareceram 11 dias depois". Não encontraram nada. "As manchas não esperaram".