Quase um terço dos jovens desempregados não foi além do 9.º ano, mas 23% têm um curso superior
O estudo do ISCTE "Quem são os jovens desempregados?" traça o perfil dos jovens com mais dificuldades em entrar no mercado de trabalho: são homens entre os 25 e os 29 anos e não foram além do 9º ano de escolaridade.
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A falta de qualificações continua a ser um obstáculo à entrada dos jovens no mercado de trabalho. É o que revela o estudo "Quem são os jovens desempregados? - Diagnósticos e Recomendações" elaborado pelo ISCTE, a pedido do IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional.
Foram analisados os dados do desemprego jovem, referente ao segundo trimestre de 2022 e quase um terço dos jovens não tinha ido além do 9.º ano.
No ano passado estavam desempregados cerca de 100 mil jovens. No segundo trimestre, quase 47% tinham concluído o ensino secundário, cerca de 30% tinham o 9.º ano e 23% dos jovens desempregados tinham um curso superior (licenciatura, mestrado ou doutoramento).
À TSF, um dos autores do estudo e coordenador do Observatório do Emprego Jovem, Paulo Marques realça que, a principal mensagem deste estudo é que vale a pena estudar: "Não estudar é, claramente, algo que cria dificuldades à entrada no mercado de trabalho".
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O estudo do ISCTE traça ainda o perfil dos jovens que enfrentam mais dificuldades de entrada no mercado de trabalho: são homens entre os 25 e os 29 anos, não foram além do 9º ano e não voltaram a ter qualquer ligação ao sistema de ensino.
Paulo Marques, um dos autores do estudo, explica que "os jovens mais qualificados estão a ocupar os lugares dos menos qualificados, empurrando os pouco qualificados para fora do mercado de trabalho".
"Se temos uma proporção cada vez maior de pessoas muito qualificadas, os jovens podem ter dificuldade em encontrar emprego que corresponda exatamente à formação que tiveram, e portanto, vão para o mercado de trabalho procurar os empregos que estão disponíveis. Por exemplo, um trabalho na administração pública, ou na receção de um hotel, era ocupado por pessoas com o ensino secundário e agora é ocupado por jovens com formação superior", explica Paulo Marques.
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Ao mesmo tempo, o "mercado de trabalho exige cada vez mais competências" - "digitais e no domínio das línguas estrangeiras", acrescenta.
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O estudo alerta ainda para um segundo grupo problemático: quase 19 mil jovens desempregados ficaram pelo ensino secundário e não prosseguiram os estudos nas universidades.
Por fim, um alerta para o desemprego dos jovens com qualificações superiores, mas nesse caso o fator determinante é a área de formação: um em cada quatro jovens com diploma em artes ou humanidades está no desemprego.
As áreas das ciências sociais e empresariais, jornalismo e direito são as que se destacam pela negativa.
Paulo Marques sublinha que este estudo serve de alerta para que os jovens se "informem e conheçam a empregabilidade dos cursos e o valor dos salários", antes de tomar decisões.