"Quatrocentos euros para pagar taxas não se apanham do chão." Mais de 100 imigrantes passam a noite à porta da AIMA
Os imigrantes querem regularizar a situação em que se encontram e precisam de uma autorização de residência
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Mais de uma centena de imigrantes faziam fila, ao início desta manhã de terça-feira, à porta da Agência para Integração, Migração e Asilo (AIMA), na Avenida António Augusto Aguiar, no centro de Lisboa. Muitos passaram a noite em frente ao organismo para conseguirem ser atendidos o mais cedo possível. A razão? Querem regularizar a situação em que se encontram e, para isso, precisam de uma autorização de residência.
Ali, marcavam presença pessoas de várias idades e nacionalidades, todas bem agasalhadas, já que a manhã estava fria. Alguns tentavam dormir, mas o barulho dos carros não os deixava.
Havia até mães com os filhos, enrolados em cobertores, ao colo. Era o caso de Fátima Pereira: "Eu vim para aqui hoje [terça-feira] tão cedo para tentar regularizar a situação do meu bebé, que precisa da residência da CPLP. Já estamos há um bom tempo nesta luta e, até agora, nada", contou à TSF.
Fátima acordou às 04h00 e, a essas horas da madrugada, há poucos transportes públicos. Para chegar à AIMA, teve de pagar "um valor alto" de Uber, num trajeto de alguns quilómetros desde o Pinhal Novo até Lisboa.
A angolana tem as suas burocracias em dia, ao contrário do seu filho. Esta é já a terceira vez que vai à AIMA para conseguir organizar a situação do bebé. "É relevante agora regularizar a situação do meu bebé, porque eu pretendo sair de Portugal, quero regressar ao meu país para resolver uns assuntos lá e não tenho com quem deixar o meu filho. E se o meu bebé voltar para Angola já não consegue regressar para aqui, motivo pelo qual estou nesta luta", assinalou ainda.
A primeira pessoa da fila esteve à espera que as portas abrissem desde a 01h00. Aliás, esse imigrante nepalês, que não fala português e não é fluente em inglês, esteve a guardar o lugar ao irmão que necessita de regularizar a sua situação. Voltou para casa por volta das 07h30, porque tinha de tomar banho para ir trabalhar.
Por outro lado, há imigrantes que receberam um e-mail a informar que têm dez dias úteis para pagar as taxas de um determinado processo num valor que pode chegar aos 400 euros. Na dúvida sobres se era verdadeiro, dirigiram-se à AIMA para confirmar. Suazelene Almeida fez a manifestação de interesse há quase dois anos e recebeu o tal e-mail que julgou, na altura, ser falso: "400 euros não se apanha do chão, tenho de trabalhar e o prazo que dão é muito curto."
Suazelene sublinhou igualmente que consegue estar na AIMA porque trabalha apenas à noite. Por sua vez, o horário do marido "é mais complicado, porque entra às 08h00 e vai ter de chegar tarde ou então não vai conseguir ir", o que implica um corte no salário no final do mês.
A palavra que mais se ouvia é "exhausted" (ou exausto em português). As portas da AIMA abriram antecipadamente, às 08h30, mas o atendimento só começou às 09h00. A esta hora, a PSP também começava a chegar ao local para controlar o fluxo de pessoas. No decorrer do dia, os imigrantes saberão se o tempo de espera será recompensado. A TSF sabe que o imigrante nepalês, que pediu ao irmão para ali estar à 01h00, só vai ser atendido ao meio-dia, porque, entretanto, havia algumas pessoas que já tinham serviço marcado e, por isso, tinham prioridade.
