Caitlyn Jenner esteve esta quinta-feira na Web Summit para falar sobre a comunidade transgénero e contar a sua história. Ser trans é como ser canhota, diz.
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Caitlyn Jenner passou uma boa parte da sua vida a contar histórias, em palcos como este na Web Summit, normalmente sobre a sua atividade desportiva enquanto Bruce Jenner. Afinal, falamos de um medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, o tal do "perfect 10" de Nadia Comaneci.
"Eu saía do palco e sentia-me uma fraude. Não contava a história toda. Tem sido assim a minha vida, até que finalmente... posso finalmente usar soutien e cuecas diante desta plateia. Não há mais segredos. Não há nada que se compare a poder sair de casa sendo eu própria", diz. Os aplausos calaram Jenner por largos segundos.
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A transição de Bruce para Caitlyn aconteceu em 2015 -- segundo a ILGA, estima-se que um "homem" em cada 12.000 sente que é uma mulher. "Do LGTB, o T é o pior compreendido. As pessoas não percebem. Todas a gente está a lidar com as suas coisas, mas se viverem uma vida sem segredos, toda a vossa vida abre-se. As transições não têm nada a ver com sexualidade, têm a ver com identidade (...) Vou fazer uma pergunta simples para as mulheres: quando é que sentiram que eram raparigas?" Silêncio.
"Para as mulheres é algo dado como garantido, mas para um trans esse pensamento está presente 24 horas por dia, 365 dias por ano. Como vou lidar com isto na minha vida? Não tem nada a ver com sexualidade, mas sim identidade. Sempre pensei porque serão trans. Não há fronteiras, estão em todos os países. Porque são trans?", insiste.
Para explicar a complexidade do tema, para revelar o dia em que disse "basta", Caitlyn fez uma analogia com o facto de ser canhota. Nas escolas de antigamente as secretárias estavam desenhadas para os destros. "As palavras não saíam bem, porque não era confortável. Depois dizes: 'Espera! Não quero saber da sociedade, sou canhota'. E de repente começas a ser canhota. As palavras começam a sair melhor. És quem és... É a melhor forma que tenho para explicar o que é ser trans".
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Depois de se isolar seis anos em casa, das hormonas e terapias, de se ver perseguida por jornalistas, depois de ver o seu rosto em corpos de mulheres nas revistas, chegou o dia da mudança de atitude, em que começaria a contar à sua família. Começou pelo filho Brandon, pois este era "mente aberta".
"A minha viagem foi longa. (...) Não sou a porta-voz da comunidade trans, sou apenas a porta-voz da minha história", lembra. E salienta: "Nos Estados Unidos uma trans negra é morta a cada duas semanas; 41% dos trans menores tentam cometer suicídio".
Este ano Jenner fundou uma empresa para angariar fundos para organizações que lidam com a causa e proteção da comunidade trans. "Muitas pessoas são marginalizadas. A minha vida era um inferno..."