Quem é Joacine, a mulher que quer deixar o Parlamento (e o país) "desconfortável"?
Joacine Katar Moreira foi eleita deputada pelo Livre nas eleições legislativas que se realizaram este domingo.
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É mulher, negra, ativista antirracista e promete trazer "desconforto" ao Parlamento. Joacine Katar Moreira tem 37 anos, chegou a Portugal - vinda da Guiné-Bissau - aos oito, pela mão da avó, e chega agora à Assembleia da República, onde quer ser o rosto de uma esquerda "antifascista", "antirracista" e "verde".
Licenciada em História Moderna e Contemporânea - vertente de Gestão e Animação de Bens Culturais, mestre em Estudos do Desenvolvimento e doutorada em Estudos Africanos no ISCTE-IUL, Joacine tem como bandeira as questões "de género, do desenvolvimento, a História, a política e os movimentos sociais e cívicos", como a própria escreve na sua página de apresentação do partido Livre.
Alegria, determinação e muita gratidão ao Fado Bicha, Telma Tvon, XINOBI e André Teodósio . Vídeo de André Godinho e cartazes do artista Francisco Vidal. https://t.co/wD5XgB8dWy
- Joacine Katar-Moreira (@KatarMoreira) August 30, 2019
Foi a primeira mulher negra a encabeçar a lista de um partido a concorrer às eleições legislativas, cerca de um ano depois de criar o INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal , uma entidade que "combate o silenciamento das mulheres negras, africanas e afrodescendentes na História e no tempo presente e promove o empoderamento, a participação social e política de mulheres, a igualdade de direitos, a paridade e a justiça social", como se pode ler na página do instituto.
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Ainda que queira dar voz a quem não a tem, Joacine garante que não vai para o Parlamento "para confortar ninguém, nem maiorias, nem minorias" e quer que o Livre seja "uma voz desconfortável" na Assembleia da República.
"Gaguejo quando falo, não quando penso"
O que deixou muita gente desconfortável foi a gaguez da candidata do Livre, algo que lhe valeu muitas críticas nas redes sociais. Houve até quem desconfiasse da condição de Joacine, acusando-a de fingir ser gaga para angariar votos, o que já foi, entretanto, desmentido.
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Em resposta ao desconforto alheio e às acusações infundadas, Joacine disse, em entrevista ao humorista Ricardo Araújo Pereira no programa da TVI Gente Que Não Sabe Estar, uma das frases mais marcantes da campanha eleitoral: "Eu gaguejo quando falo, não gaguejo quando penso. O que é um risco enorme na Assembleia são os indivíduos que estão lá e que gaguejam quando pensam."
As críticas ao "Bolsonaro português"
Joacine Katar Moreira terá de partilhar o hemiciclo com André Ventura, o candidato do CHEGA que comparou ao Presidente do Brasil. "Precisamos de evitar que haja Bolsonaros" em Portugal, afirmou Joacine Katar Moreira à Lusa, poucos dias antes das eleições.
A candidata do Livre considerou que "Bolsonaro é um exemplo muito semelhante ao do André Ventura aqui", sustentando que ambos "são indivíduos completamente populistas, com uma ótica antidemocrática, mas são indivíduos que igualmente não têm programa para o país".
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Não será difícil adivinhar um choque de ideias na Assembleia da República entre os dois deputados, até porque Joacine já garantiu que "não há lugar para extrema-direita no parlamento".
*com Lusa